sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
domingo, 12 de dezembro de 2010
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Brincadeiras
Hoje você vem, sei de cor porque conto os dias. É o sábado da minha semana, mesmo sendo só terça-feira. Você liga avisando, pega o ônibus pelas duas, vai chegar por volta das três e eu ansiosa. Mamãe vai preparar algum bolo pra gente comer, mas só te espero chegar pra descer e ficarmos a sós no portão olhando o mundo que passa, rindo, beijando, beijando muito. Guardo todos os meus pra você, porque minha boca só se completa na sua.
Din-don. Parece que você aperta meu coração junto com aquele botão. Desço, sempre nervosa. Giro a chave e meu estômago já todo virado. Ninguém. Alarme falso? Alguma criança, aposto que foi o Serginho, escondido ali. O susto é tão grande que perco as forças nos seus braços quando te vejo no esconderijo da criança. Você é assim, brincalhão. Brinca até com o que não se deve. Mas me faz feliz.
- Saudade.
- Simm! Muita saudade!
Minhas mãos molhando as suas enquanto conto minhas histórias, você sempre calado. Às vezes penso que não presta atenção. É muito romântico também. Diz as coisas mais lindas e engraçadas. Quando são umas cinco a gente entra e fica atrás do portão sem subir a escada, agora escondidos do mundo.
Nem me dei conta e você colocou a minha mão lá. Agora engasgo de tanto que bate o peito. Bate e você massageia. Ergue-me pelas coxas e fico apoiada entre a parede e o seu corpo tão jovem quanto o meu. A única coisa que você me pede quando liga avisando que vem é que eu vista uma saia. Faço que não entendi mas adoro o pedido. Fico louca que para desfilar todas as minhas fantasias no seu bloco, mas agora estou tão nervosa... A minha primeira vez e também a sua. Vamos chegar lá.
- Natália!
Se eu não cuspi meu coração agora, jamais cuspirei. Quando você já estava quase me penetrando toda apertada-molhada-epa!-, meu pai chama.
Você fica puto, entro em desespero. Será que ele viu? Vai lá. Os dois tensos. Subo, desço, ele no banho queria saber como eu havia acabado com o xampu. Derramou.Que nem a nossa cara.
Você me diz que é hora de voltar, ainda não passam das oito. Liga quando chegar?
Escolhi minha música favorita como toque pra quando você chamar: “Lanterna dos afogados”. Espero acordada pelas notas que não saem do telefone -nem da cabeça- à noite.
Matheus, 07/12/10
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
A hora do cansaço
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Opus
terça-feira, 9 de novembro de 2010
domingo, 7 de novembro de 2010
Banho maria
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Trecho
Não quero viver ofegado por mergulhos superficiais amiúdes. Em prazeres fugazes de montanhas russas. Prefiro profundidade, chegar onde não dá pé, arriscar imergir no abismo ou me sufocar até me achar morto do que for feito esse mar aqui dentro, lá fora. Para daí, depois da última gota - a que transbordar o balde ou a que secar o oceano -, descobrir que não se morre de intensidade, mas pela falta dela.
Então respirar, porque ter sossego faz um bem...
Matheus, 04/11/10
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
Viagem minha
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Partir est mourir un peu
Quando estás longe, continuas presente em mim. É uma presença que reveste as formas mais diversas: imagens incontáveis, passagens de livros, significações, coisas familiares, marcas na terra; mas o conjunto de tudo isso fica difuso pela realidade da tua ausência. É como se o teu ser se transformasse em lugar, os contornos do teu corpo em horizontes. Vivo portanto em ti como se vivesse num país. Tu existes em todo lado. Nesse país, contudo, nunca te poderei encontrar face a face.
Partir est mourir un peu. Era muito novo quando ouvi esta frase pela primeira vez e logo percebi que ela exprimia uma verdade que eu já sentia. Recordo-a agora, porque a experiência de viver em ti como num país onde é impossível encontrarmo-nos face a face parece-se com a experiência de viver com a recordação dos mortos. O que eu não sabia quando era novo é que nada elimina o passado: o passado vai crescendo gradualmente à nossa volta como placenta da morte.
No país que tu és, conheço os teus gestos, as entoações da tua voz, a forma de todas as partes do teu corpo. Fisicamente, não és menos real, mas és sem dúvida menos livre.
John Berger
sábado, 23 de outubro de 2010
domingo, 17 de outubro de 2010
Primaveril
sábado, 16 de outubro de 2010
Não seria natural.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Conversa
Gosto do silêncio que faz a chuva. Esse som molhado, insistente, finito. Do cheiro também gosto, mesmo não sendo mais o de terra molhada. Pode ser o do gato, do cachorro encharcado desfilando, bobo vadio, nesse chão preto, duro como a vida nas cidades.
Chamo de silêncio o que faz a chuva porque abafa o que há de pior na quietude desses centros: essa camada sonora feita dum ronronar contido, poluído e doente dos motores reclamões que correm lá embaixo para todas as direções e vindos de todos os lados. Do cheiro dessa rosnação toda então, nem falo. Falo. Cheiro preto, entupido, que me engasga a garganta e dá um nó que às vezes nem identifico. Fico assim sem saber dizer se é saudade da terra molhada na rua lá fora ou um grito seco preso aqui dentro. “Mas gritar assim? Logo você, tão calmo, compenetrado...” “Pois é. Às vezes a gente acaba desabando um pouco. Desabafando, digo.”
“Um minuto! Vou ali na rua beber essa tempestade.” “?!” “Fica mais fácil de engolir o choro.”
Sei lá, eu devo ser meio hippie.
Matheus Marins, 07/10/10
Soneto do Corifeu
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Sinais
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Neste modelo político, os governantes do país são um mero (às vezes grosseiro) reflexo de seu povo. Se elegemos jogadores de futebol e comediantes simplesmente por serem populares, não podemos esperar seriedade, pois não podemos nos considerar sérios enquanto “povo”.
Você aí que votou no Tiririca é um(a) menino(a) bobo(a) sem graça e eu gosto tão pouco de você...
Fujo do tema novo do blog e tudo o mais, mas deu vontade de dizer. Logo paro de falar de política.
Matheus Marins, 04/10/10
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
O Dia Seguinte
Matheus Marins Alvares 17/9/10
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Esquizofrenia Eleitoral
Não! Isso não aconteceu comigo!
Matheus 27/09/10
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Tragédia Concretista
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
Parti ao teu encontro
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Placebo (?)
É, médica, eu sei que a vida não é fácil e que é preciso estudar para aprender direitinho e passar nas provas, depois conseguir um bom trabalho e se dedicar, daí traçar tudo o que se quer e ser um profissional bem posicionado no mercado, com estabilidade e reconhecimento. Aquelas coisas. Sei que se te passarem um beep na madrugada interrompendo nosso sono, ou nossa insônia, você terá de atender porque há vida em risco. Mesmo sacrificando a vida que criamos, pois sua profissão será uma vida à parte. E cada um é tão importante como você ou eu. Sei. Não tenho problemas quanto a isso e reconheço a importância crucial de uma boa medicina sempre disponível à população. Isso é base para a sociedade. E eu aceito tudo isso, sem problema algum.
Então, médica... se eu deixar meu coração com você, cuida como se fosse o daquele paciente que passou por mil testes e doutores, sem que fosse diagnosticada solução pra essa taquicardia? Seja paciente com a disritmia desse músculo que aos pulos vai me saindo pela boca. Cuida, que com o tempo ele volta ao normal. E quando já não houver mais sinal de descompasso, mão suadas, palavras sumidas, eu vou embora como todo o paciente.
Talvez aí você me deseje outra doença pra voltar aos seus cuidados, só pelo costume. Mas, sinceramente, acho que nunca será coisa tão séria que volte a precisar de seus tratos então. A não ser que eu tenha uma recaída. Sei que você será paciente nesse caso.
Olha eu adiantando a coisa toda. Faço mesmo muito disso, de querer profetizar. Mas agora vamos aproveitar, enquanto... BEEP!.
Matheus Marins Alvares - 09/09/2010
domingo, 5 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Da próxima vez te trago um cigarro, que num dos tragos você cospe esse babaca.
E também um pouco de lágrima para degelar isso que se fez entre nós.
A você só tenho a oferecer o meu pior: esse músculo todo lascado e que não parte.
Vaso ruim não quebra mesmo, mas ninguém quer botar flor.
E, por esses vasos de sangue, fica exposto à flor da pele o martírio do músculo lascado se contorcendo no gelo.
O frio pode até conservá-lo das medidas do tempo,
mas o mantém incurável refém daquilo que não se mede.
Matheus Marins Alvares - 23/8/10
domingo, 15 de agosto de 2010
Um olhar embevecido, um sorriso? Um verso, quem sabe...
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Eu perdi a conta dos dias, acho que por não ter falado com você na maior parte deles. Períodos assim me parecem mesmo perdidos demais para conta. Conto contigo para quando a sua chegar ao fim, ao dez, quando minha alegria começa. Fico pensando, será que chega logo? Ando louco para chegar aí e sentir seu corpo caber entre meus braços, meu olhar caber dentro do seu...
Mas como contar? Primeiro, segundo, terceiro, quarto, copa, sala, lugares onde a procuro quando acordo. Cantos onde a vejo improvável na hora de dormir. Tão natural agir como se tudo já estivesse acontecendo. O sonho se estranha de ser sonho só.
Afinal, o que é uma diferença numérica perante o tamanho do que a gente sente?
Matheus Marins - 10/08/10
sábado, 7 de agosto de 2010
Confuso
domingo, 1 de agosto de 2010
100
Estrondo! Na primeira curva ouviu-se o desacordar dum piscar de olhos que durou tempo demais. Ele no chão, vestindo uma camisa branca com marcas que já acusavam certas aventuras da mesma noite; as pálpebras pesadas: lugar comum aos que prolongaram até essa hora da madrugada sua boemia de sexta. Seu companheiro o puxou de volta para o assento, e os poucos passageiros presentes notaram a cena fingindo normalidade. Logo passa, imaginaram. Para compensar o tamanho avantajado que roubava da camisa branca parte do seu lugar no banco, o companheiro cruzou seus braços com os do amigo caído, segurando firme para não acontecer de novo.
Daí prédio, sinal, pálpebra, quebra-mola, olho no celular, prédio, mola, árvore, pálpebra, chão: Estrondo! Como num ciclo de imagens e reações, a camisa branca, marota, querendo brincar, voltou ao chão do ônibus, mas dessa vez pra valer. Já foi de bruços e conquistando seu espaço na poça. O celular, que pendia numa das mãos, imitou o gesto do dono e também ficou jogado, imundo, boêmio, sonhador num chão que de sonhos nada conservava. Uns figurantes vieram levantá-lo e até tentaram sentá-lo num outro banco. O negócio é que algo acima dele, quem sabe a bebida desleal que lhe bateu de mal jeito nos devaneios, e a qual não negara sequer uma gota da cota de embriaguez oferecida. Quiçá o palhaço bêbado carregando-o no colo, brincando de ventríloquo. Ou a ex-camisa-branca, agora preta. Algo acima dele o quis de volta ao banco estreito e trapaceiro, junto de seu companheiro. Ele obedeceu: levantou e voltou como um monge, causando preocupação e apreensão aos outros passageiros. Atirou-se de volta ao seu lugar apoiado em seu companheiro tal e qual criança faz com ursinho de pelúcia na hora de dormir. Havia virado criança mesmo. É pena que a idade chega, o terminal também. Os passageiros se vão e ele logo volta a ser adulto. A camisa preta cobra sua candura de volta, e se algum segundo da viagem, que nem chegou a ser longa for lembrado, agora ele deverá estar procurando por sua moral num pote de iogurte. Ou não.
Matheus Marins - 31/07/2010
domingo, 18 de julho de 2010
Olha Maria / Pedaço de Mim
Olha Maria
Eu bem te queria
Fazer uma presa
Da minha poesia
Mas hoje, Maria
Pra minha surpresa
Pra minha tristeza
Precisas partir
Parte, Maria
Que estás tão bonita
Que estás tão aflita
Pra me abandonar
Sinto, Maria
Que estás de visita
Teu corpo se agita
Querendo dançar
Parte, Maria
Que estás toda nua
Que a lua te chama
Que estás tão mulher
Arde, Maria
Na chama da lua
Maria cigana
Maria maré
Parte cantando
Maria fugindo
Contra a ventania
Brincando, dormindo
Num colo de serra
Num campo vazio
Num leito de rio
Nos braços do mar
Vai, alegria
Que a vida, Maria
Não passa de um dia
Não vou te prender
Corre, Maria
Que a vida não espera
É uma primavera
Não podes perder
Anda, Maria
Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer
----
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Chico Buarque
Muitas vezes estamos apenas contando a mesma história, só que dividida em várias outras.
Dedicatória.
domingo, 11 de julho de 2010
Reencontrar-te depois de tanto tempo me deixa confuso. Saber de tudo o que fomos e pôr em contraponto com o pouco que somos é dar uma catucada atroz na ferida mal cicatrizada.
E juro que, quando a re-vi, de primeira não soube o que fazer, por mais calculado que meu repertório pudesse estar. Você ria um riso tão fácil, tão saudoso, tão cúmplice de nossos sonhos que, quando nos abraçamos, vi aquela ferida se abrir por completo e se alastrar pelo meu corpo todo, deixando evidentes segredos que até eu desconhecia. Toda a minha vontade escondida ficava destrinchada, nua, entregue de bandeja assim no meio do salão: tudo o que vez ou outra me puxava sempre veloz, porém atrasado, de volta para você: toda a paixão ficava exposta e indefesa, do jeito que sempre sonhei.
Quando você disse que trazia cartas minhas consigo, cartas da época de nossos caprichos, já nem era mais tanta curiosidade quanto assombro, mas da mesma forma quis lê-las.
Cada palavra era uma porrada na minha compostura, uma labareda na minha frieza, uma corda bamba no abismo para os meus cuidados. Eu, vítima de minhas próprias palavras, sei que caí, mas não por completo, porque não foi toda a água contida que caiu de meus olhos trépidos naquele instante.
Era inseguro, desejava e, quando não mais aguentei, te roubei um beijo, ou algo que um dia quis ser beijo, calando uma conversa sobre relacionamentos e me vendo ainda mais perdido de tão solto.
Sei que a noite seguiu seu rumo fiel à normalidade porque tomei o ônibus e era eu trazendo seu perfume comigo outra vez, apesar de intervalos a cada vez mais espaçosos a me dividirem desse teu cheiro. Coisa doce que trazia nas mãos que tanto te seguravam entre nossos devaneios, no peito, trazia nos braços que se alegravam de te dar tantos abraços. Coisa doce... doce, doce essa melancoliazinha. Ai ai
Eu estava em paz... quando você chegou.
Matheus Marins Alvares – 10e11/07/10
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Felicidade
Ele tinha o cabelo molhado, talvez pela chuva que caíra perto dali cinco minutos antes. Contraditoriamente, andava apressado e sem ir a lugar nenhum. Ia, mas voltava para o mesmo ponto logo em seguida. E na cidade grande seu rosto já era batido, revestido de cotidiano de forma que ninguém atentava às suas andanças vãs.
Ficou claro que esperava por alguém quando um carro encostou e ele foi ao seu encontro. Era ainda possível percebê-lo recebendo uma maleta de couro, que carregou com todo o cuidado quando deu para sair em disparada para um beco de difícil acesso não muito longe dali. Foi onde encontrou outros homens de paletó e gravata, agachados num chão úmido, fazendo círculo e jogando bolinhas de vidro que batiam umas nas outras. “tudo pronto?” pergunta o primeiro. No que o homem do cabelo molhado faz que sim, um deles bate palmas em direção à janela de um prédio vizinho. Quem aparece abrindo a porta dos fundos é uma criança lá com seus oito anos de idade. Todos sobem em silêncio e no terraço já não se perde tempo: a mala é aberta revelando seu conteúdo: uma formosa pipa verde com uma rabiola respeitosa, toda detalhada. O menino explica todo o processo de preparação e a curiosidade desses homens tem cheiro de porões velhos nunca arejados. Depois, de um em um, todos tentam colocar a pipa à liberdade do ar, recebendo dicas do garoto paciente que ainda ouve pérolas como “no meu tempo era mais fácil”, “o vento está ruim” e “amanhã eu trabalho cedo”.
A pipa já voa orgulhosa quando o horário da aula vai acabando. “Isso é para se usar apenas antes do pôr do sol. Pela noite não dá para enxergar direito, e o céu escuro é bom mesmo para ver os desenhos que as estrelas fazem ou procurar onde a lua se esconde em dias de noite fechada. Experimentem apagar a luz.” Sugeriu o pequeno sabido. Ao fim, todos saem leves de volta para suas casas e com um riso fácil, reparam nos pássaros e esquecem a buzina do carro.
Passaram-se duas semanas desde que uma reunião de trabalho foi feita na casa do Carlinhos, logo quando todo o escritório abriu os olhos após o Rafael concluir, entre uma conta e outra, que queria mesmo era ter os fins de semana como os do filho do Carlinhos e que não havia estudado para ter uma vida assim tão corrida. Aí então se percebeu desnecessário o esforço de todos aqueles homens em fazer o mundo girar mais veloz, e deu de aparecer por ali a graça de viver com o tempo. Mas aquelas pessoas não sabiam bem como funcionava essa coisa de se distrair. Foi quando o Carlinhos prestativamente ofereceu seu filho para lecionar aos adultos como esquecer o trabalho oito horas por dia. Aí eram crianças de todas as idades, vestidas de todos os jeitos, a soltar seus devaneios, desatentas ao relógio que agora corria já de outro jeito.
Conseguir ver um mundo tão vil com olhos de criança é um desafio, uma dádiva para poucos.
Matheus – 04 e 05/07/2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
Fazes-me falta
sexta-feira, 2 de julho de 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
O velho e a Flor; Veja Você; Mais um Adeus
"O amor é uma agonia
Vem de noite, vai de dia
É uma alegria
E de repente
Uma vontade de chorar
Olha, benzinho, cuidado
Com o seu resfriado
Não pegue sereno
Não tome gelado
O gim é um veneno
Cuidado, benzinho
Não beba demais
Se guarde para mim
A ausência é um sofrimento
E se tiver um momento
Me escreva um carinho
E mande o dinheiro
Pro apartamento
Porque o vencimento
Não é como eu:
Não pode esperar"
Vinicius de Moraes e Toquinho
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Despedaço
domingo, 27 de junho de 2010
Um momento
Tempo, duração, período, decurso, transcurso, prazo, fase, intervalo,...
sexta-feira, 25 de junho de 2010
domingo, 20 de junho de 2010
Esses dois...
quinta-feira, 10 de junho de 2010
domingo, 6 de junho de 2010
Três Músicas
Mal o pianista termina suas notas, entornam na sala acordes de Just Like Heaven. E o de vermelho se destacou e jorrou pela veia um bocado de heroína. Euforia, calor e conforto o fazem mesmo se sentir Just Like Heaven. O mundo pende por um fio no qual ele dança, sapateia, salta e urra aquilo que lhe apraz aos três ventos que saem do ventilador. O que vem depois não importa, pensa.
O que vem depois é a poesia nos versos de Arnaldo Antunes. É quando o cara de azul se solta para embeber mais um pouco de benzina no pano e sorver outro vale milhas e milhas de viagem de três minutos, é para onde? Paris? Acapulco? Novo México? Marte? Lua? Sol? Sala de estar. Está consumado.
Acaba a última música da playlist, fim. E eu, o de branco, lembro-me que sou a soma daqueles três. Não percebi em quantas partes me despedacei e quantas colorações deixaram escapar entre cada viagem. Sei que restou apenas a mistura de três cores primárias no que era tanta, tanta vida que dava inveja ao arco-íris.
E o de verde está paquerando uma pedra de crack. A vida se esvai contraditoriamente. Minha camisa vai ficando lilás.
Matheus Marins Alvares - 06/06/10
sábado, 5 de junho de 2010
Futuro do Presente
O olhar dela penetrou nos olhos dele, passeou, escorreu para a boca, a qual mirou enquanto se achegava.
E a distância diminuía fisicamente, porque em pensamento os dois se faziam um só havia tempos.
E ele caminhava firme em sua direção, aflito, sem saber se ria, se corria para ela como fariam nos filmes ou se deixava a lágrima cair do canto do olho.
E ao ficarem tão próximos, a mão dela não tocou primeiro o braço dele, as cinturas não se achegaram antes que o resto e nem foi uma testa que tocou a outra por antecipação. Ambos e todas as partes do corpo de cada um se conectaram de imediato. E ficaram assim grudados, houve como que uma descarga elétrica que acendeu tanto o brilho nos olhos dela que na atmosfera desses dois a sua luz era mais ofuscante que o sol. Entretanto ele não podia deixar de mirar, seus olhos lacrimejavam e os dois não se controlaram: dois lábios se juntaram e os corpos se encaixavam congruentes. O beijo durou não se sabe se uma semana, um dia, uma hora ou um minuto, mas foi tempo o bastante para traduzir toda a espera pelo acontecido.
Ele avançava nela tal qual um bicho faminto devora sua fruta predileta. E ficava tão bêbado de seu perfume, seu toque, sua saliva, que mesmo tendo calculado todos os gestos anteriormente, às vezes ficava sem ação. Errava na conta, perdia a pose e trôpego ia se ajeitando entre os braços da amada. Inflamaram todo o desejo no melhor beijo que cada um pôde dar. Daqueles que ficam reservados desde sempre, mas a gente nem se dá conta e solta assim sem perceber.
E eles patinaram pelas ruas da cidade que tinha toda sua cor naquele casal. Os transeuntes não compreendiam o que se passava, e os dois subiram deslizando pela parede feito loucos, nas escadas de uma casa, um hotel ou um prédio bem alto.
E o quarto ao qual chegaram ficava tonto de tanta graça, se desequilibrava e jogava os dois para um lado e para o outro. Sem cerimônia ou disfarce, os toques eram sutis porém intensos, na cadência incerta de quem andou muito tempo perdido e agora parece se encontrar aos tantos.
E ele vai escrever nela a glória dos dias mais quistos de duas vidas.
Ela, com seu fogo deixará marcada nele a realidade do sonhado encontro das duas vidas.
Numa outra atmosfera descobre-se finalmente que ela é o sol e ele o planetinha girando tonto em sua órbita, se aproximando a cada volta e brincando com o fogo.
E os acontecimentos subsequentes não cabem em palavras para entrar no relato.
Matheus Marins Alvares - 04/06/2010
*Texto em revisão
quinta-feira, 3 de junho de 2010
moça bonita
de quem deseja bom dia
pede boa noite enquanto se despede
quem é essa moça
sorriso bonito
olhos alegres
mora tão longe
tão perto
do meu coração
Matheus Marins - 03/06/2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
Dia de fúria
Queria postar todo dia aqui.
Chegar, sentar na frente do computador e puft! Ter uma história na mão.
Esses computadores que eu passo o dia encarando... gostam mesmo é de dificultar.
Moderno é lápis no papel.
Não precisa apertar botão, só se for lapiseira.
Mas aí não tem que esperar sistema carregar, apertar o F1, aguardar, escutá-lo reclamar da memória ram, não precisa ignorar aquela orquestra toda em desacordo...
No máximo trocar o grafite e desentopir o bico.
Grafite vai pra copa?
E a CPU vai pela janela, já já.
Dia de branco amanhã, hora de dormir.
...hoje tô tão antigo...
Matheus Marins - 01/06/2010
Da gaveta
Quando me perguntar qual é o sentido
Direi que todos os sentidos podem fazer algum
Porque quando meus sentidos aceleram, é você
O fim que se quer justificar, é você
E se esse fim for mesmo justo, será você comigo
Pois, justiça seja feita, o sentido pro meu mundo
É girar em sua órbita
Todas essas frases se direcionam a uma pessoa só
A segunda pessoa do singular.
Singular é o que sinto por você, que sei que ninguém mais sente como sinto
Ninguém me vê como te permito me ver
Singelo.
Quem reclamar que não falei amor
Entrou em desconchavo.
Não entendeu a relação
Com determinada cumplicidade
Essa palavra está nas entrelinhas
Está nas linhas de minhas mãos
Não sabe que seria redundância eu conjugar você com amor em mesmo lugar
Já que toda a conjugação do verbo que aqui faço é indireto para você
Perda de sentido é quando te vejo, mas não a ouço
Leio-te, mas não podes me ver
Ou te vejo, ouço, cheiro mas não posso tocar
Será que senti mesmo alguma coisa?
Matheus Marins Alvares - Vá saber de quando!
domingo, 30 de maio de 2010
Justificam os meios
Ele confere que uma neve fina ameaça brotar lá do alto. Vai caminhando lento. Tem uns passos cansados, que mal o querem mudar de lugar. Atravessa com calma, ouve a buzina do carro ecoar. Coloca um pé sobre a calçada, o outro. Se eleva no degrau com cara de todo-dia. Folheia um livrinho, esconde o jornal e sai sem pagar. Vai entrando na cafeteria. Do balcão, procura a melhor opção, opta pelo simples cafezinho que vê uma moça atraente tomando enquanto apressada folheia umas revistas.
Ela termina o café, tem tempo para dar uma varrida na decoração com os olhos desassossegados, vai mirando até travar o olhar num homem bem vestido lendo jornal com cara cotidiana. Liberta os pensamentos presos, levanta e esbarra talvez sem querer nele. E deixa sua chícara cair, e a porcelana vai se espatifar, e vai dar o maior trabalho para a faxineira.
A chícara cai em cima dele, ele se assusta e derrama café na moça chorando em preto e branco nas páginas do periódico. Respinga um pouco mais no jogador de futebol comemorando, e o líquido preto vai descendo até o seu sobretudo, e a chícara termina seu percurso até o solo, e tudo acontece tão rápido, e ele ainda tão lento. Ele, num arroubo, se sacode e sente a arma escorregar. Olha o chão, lá está. Aquela nove milímetros por cima de toda a porcelana espatifada. Ele só pensa em jogar o sobretudo por cima daquela festa e parece um louco se oferecendo para limpar e pedindo para ninguém chegar perto. Cata tudo e faz da vestimenta uma grande bolsa. Por que ele não usou o jornal?
Ela se desculpa, acusa seu jeito sem jeito, implora, é desculpada mil vezes, ri, percebe ele tentando ser natural sem conseguir, pois usa um sobretudo novo para limpar o chão. Desconfia que esteja inseguro pelo fato de ter se sentido atraído, e ele pode ser tímido. O acha gentil e deixa seu número, convidando para sair mais tarde, depois do serviço. E ele precisava mesmo de uma fachada para tanta alegoria disfarçada.
Ele perdoa, ri sem graça, sua frio, perdoa mil vezes, dá um riso amarelo, tenta manter a compostura com os cacos brancos e o volume de ferro pesado dentro daquele embrulo tosco. Se demonstra vulnerável e a verdade é que ela é mais uma a qual deseja mas não consegue tentar nada, transbordado por outros objetivos mais imediatos. Porém percebe utilidade, e sabe que não é só o seu coração traidor que pede atitude.
(...) E uma pessoa é enganada.
Ela vai tentando girar a chave para sair, as duas mãos cobertas de sangue. Não tem muita força, a bolsa é pesada, e a porta está emperrada, o sangue escorre por suas mãos para o metal da chave, goteja no piso e se espalha feito uma louça a se espatifar.
Ele está desnorteado, sangra mais que ela, vai correndo o apartamento a procurar. Cadê? Precisa daquele dinheiro na bolsa para pagar a cirurgia da mãe de seus filhos. Retirar uns três caroços que colocaram tudo de ponta-cabeça.
Matheus Marins Alvares - 30/05/2010
sábado, 29 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Tentativa de roteiro 1
Ela: - Claro que não! É por você, apenas.
- Queria tanto que você ficasse...
- Paulo, a situação ficou insuportável
- Sei que errei feio, meu bem. Garanto que não acontece de novo. A partir de agora vamos conversar mais, deixar as coisas claras...
(Silêncio)
Ele: Passo até no seu trabalho no horário de almoço.
Ela: Nem pense em voltar no meu trabalho! Todos já estão desconfiados, me olham torto e tudo! (Exaltada)
Ele: -E quem é que se importa? Você já está querendo dar do pé de lá e ir para Nevada de vez mesmo...
- Um dia eu volto, quem sabe. E aí? O pessoal todo vai lembrar que meu marido me traiu com o meu chefe?!
- Não fala assim...
- Por quanto tempo me escondeu isso, homem? Todos os 8 anos que estivemos juntos?
- Sempre tive receio de sua reação. Mas juro, com seu chefe foi a única vez! Fora isso, há anos que não acontecia.
- Sei...
- Verdade! Verdade!
- Você deveria buscar o que te faz feliz.
- É exatamente o que estou fazendo (soluçante).
- Achei que fosse aceitar melhor.
- No início foi mais fácil... Aí pensei nas manhãs sem ter a quem acordar, o telefone sem utilidade, as noites sem você e seu chá de camomila...
- Desapego, Paulo! Quem errou foi você. Vamos dar um tempo e, quem sabe um dia volto e te faço uma visita.
- Quanta frieza...
(O ônibus com direção a Nevada desponta na entrada da rodoviária, ela se apressa).
Ela: -Vê se ao menos me ajuda a levar essas malas.
(O ônibus de viagem estaciona, a porta se abre, passageiros desembarcam e é a vez dela entrar).
Ele: -Me liga quando chegar.
(guardando as malas).
Ele: - Não esqueça o remédio de enjôo.
(primeiro degrau)
Ele: - Deixei uma lembran...
(fecha-se a porta do ônibus, ela nem se despediu. Ele fica só, na rodoviária, assiste o ônibus em retirada e volta para o apartamento).
CENA 2
Uma semana depois, Paulo no apartamento ligando para a mãe dela.
Ele: - Alô? Ângela? Oi! Sou eu, o Paulo; faz uma semana que sua filha foi embora e não consigo qualquer contato, estou preocupado; ocupada?! Não pod...
- Tum, Tum, Tum. (Ângela bateu o telefone).
(Paulo fica preocupado e resolve investigar. Não consegue nada no antigo trabalho dela, que aparenta estar fechando as portas).
CENA 3
Dois meses depois, Paulo encontra uma conta no apartamento que dá para um endereço em Nevada.
Ele: - Deus do céu!
(gagueja qualquer coisa)
Ele: -É minha chance de rever meu amor. Vou pra lá amanhã mesmo! (falando sozinho)
(Paulo vai para a cama e não consegue dormir. Levanta, deixa o apartamento bagunçado e parte para a rodoviária).
CENA 4
Na rodoviária e, depois, dentro do ônibus
(Paulo está com o bilhete e embarca. A viagem é longa: 16 horas)
15 horas depois:
Rádio local: - Seguros e previdência UNILESCO: A sua melhor opção!... (UNILESCO é o nome da empresa onde ela trabalhava).
Ele: - Então era isso?! A empresa toda mudou para Nevada e ela não contou? Deve continuar trabalhando lá...
Um passageiro: - Quero dormir, cale a boca!
CENA 5
Paulo chega, toma um táxi até o endereço indicado na conta e, ao chegar, vê uma grande casa. Aproxima-se, analisa, vê um varal na lateral, onde Poe ver roupas que são dela e Paulo tem certeza de ter acertado seu paradeiro.
Paulo toca a campainha (barulho de duas pessoas dentro da casa, ouve a voz dela).
Ela: - Sua vez de atender, amor!
A outra pessoa: - A essa hora da manhã... (responde uma voz familiar a Paulo).
A porta abre, é Romário, o chefe dela, vestindo pijamas.
Matheus Marins Alvares - 14/05/2010
*Faltou um diálogo do início que perdi. Se alguém achar que fez falta, avise.
**Não reparar na minha habilidade para escolher nomes.