Hoje estive com minha velha amiga Rebeca. Há muito não a via e sem querer esbarramos em nosso passado. Sua lembrança, mais que em qualquer outro dia, me veio atroz, terrível por saudade sem cura pelo remédio que está em falta faz tanto tempo. Há seis meses que estás distante... Cheguei em casa ainda composta, mas fui caindo aos pedaços conforme atravessava a sala de estar e via o porta-retratos com duas pessoas sorrindo, fotografia que não sustenta o pesado ambiente da falta. Acelerei pelo corredor sem olhar o seu quadro. Inevitável, o avistei por nuances do costume da mesma forma e a saudade aumentava. Na cozinha, no quarto, banheiros, sala de jantar, havia vestígios de nossas horas vagas em cada piso daquele chão. E é difícil levar assim. Deito-me à cama com um, mas sigo pensando no outro. As tardes não têm mais graça. Continuo trabalhando à noite para me ocupar. Durmo até a hora do almoço e depois não sei o que fazer. Por isso escrevo-lhe tanto. Já experimentei pintar, jogar videogame, fazer caminhada, futebol, ginástica, arrumar um substituto,... nada funcionou. Meu coração é um traidor sacana de escolher logo você e querer andar tão errado, selecionando os que partem, os que enganam, e enganando os que ficam.
Me peguei imaginando como seria se eu fosse para longe de onde fiquei. Acelerando sobre cada metro deste luar refletido nas águas, chegando à ponta do horizonte (onde uma linha faz o encontro entre dois pontos extremos) e verticalizando após ultrapassá-lo. Seria como quebrar esta formalidade e deixar escapar tudo abaixo da linha do horizonte para onde quisesse estar. Ando com raiva de tudo o que me prende, do formal. Não, não estou com abstinência. Tomo meus remédios também. Acho que é só saudade. Paro de braços abertos na beira da cama. Braços que te procuram, por almejarem de volta tudo melhor que antes: nós dois soltos de tudo contemplando todo o resto que se prende.
Assim meu peito seria alegre contigo, numa enchente carnavalizada em cores. Numa hemorradia de emoções lancinantes. Como um teatro sem cortinas, assim seria a minha felicidade. Sem final para o ato, portanto sem aplauso. Finalmente com nada a esconder atrás da cochia, garanto.
Matheus Marins Alvares - junho/2010
Que amizade!
ResponderExcluirJefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com
A saudade as vezes é uma droga. Sentimos falta do que não mais temos, do que nos fez bem um dia, mesmo que tenhamos tudo o que se possa querer não estamos satisfeitos. Somos eternamente inconformados, até que a saudade morra em nosso peito.
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