terça-feira, 8 de maio de 2018

Panapanã

Panapanã, do tupy: Coletivo de borboletas

Ao Ipê-Amarelo
que não era um Ipê-amarelo
e confundia a gente com o nome
e às borboletas amarelas com o formato.
Elas voavam nele
se assomavam a ele
notavam companheiras onde eram pétalas
ao ver uma, queriam namorar
Davam um cheiro, pousavam do lado
e sem perceber, a árvore já lhes assemelhara
e cada borboleta virara pétala.
Afortunadas borboletas,
quem as namorava era a árvore.
Anciã, em sua lonjura de tamanho,
um outono lhe custa um instante
e um bater de asas, uma eternidade
quando ela esperou inteiro o ano
para namorar em abril.
A pétala e a árvore faziam um amor inadiável,
E a borboleta
tombava
de extasiada
à sorte do
vento
vinha do alto,
desatando em chuva amarela
as efêmeras namoradas da árvore.

Matheus Marins


To the yellow ipe that wasn't an ipe but was yellow and used to confuse us with the name and the yellow butterflies with his yellow they used to fly on him get close to him notice partners where there was petals by seeing one, wanted to date them take a smell, land next to them and without noticing it, the three had already resembled 'em and each butterfly turned into petals. lucky butterflies who dated them was the three old in her vastness of size an autumn used to cost her an instant and a flap of wings, the eternity when she waited the whole year to flirt in april the petal the three used to make an unavoidable love and the butterfly fell on ecstatic to the wind comming from above unleashing in yellow rain the ephemeral girlfriends of the tree


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

.

ouvir
o vir
da nu-
vem:

serena sereia
uivando ao vento:
anunciante do alto mar aporta
a cidade, convida ao lindo naufrágio
quem quer que perceba.

mas aqui não há quem note:
o horário encolheu
o whatsapp vibra no bolso
o facebook urge
o trânsito abafa seu canto
o trabalho suga suas horas
se acaba a bateria
é preciso chegar em casa

e a rota é uma só,
cumprida quase sem perceber,
a sereia nao vai mudar.

ela canta, canta nua
sobre sua nuvem
negra

derruba uma,
duas, três
árvores e postes
até acabar com a luz.

fico a
olhar o
molhar da
mulher
d’água.

Matheus Marins

sábado, 2 de janeiro de 2016

reflexões de 7a.m.

Nós sempre estamos mudando, mas sempre esquecendo que as outras pessoas estão mudando também. Elas se tornam o nosso elo com o passado, com o que a gente foi.
As julgamos pelo que já foram sob a égide de quem fomos, mas com os olhos de alguém em versão atualizada.
E passam-se anos de resoluções de réveillon que às vezes cumprimos...

02/01/201...6!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

onde nasce a inspiração nº2

Falta-me pulmão, ou ar, ou mãos pra segurar essa saudade.

onde nasce a inspiração


...E despertou-lhe um sorriso que acordou músculos que beiravam um quarto de século em sono profundo...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Cafuné

Flutuo por vagas horas,
cerúleo no marejar dos seus dias.
Amante dos mares, foi no varrer dos meus remos
que desaguei nos seus braços.

Me pegou pela mão, alto-mar
me pegou pelo pé,
deixou vestígios azul-turquesa;

Me trouxe na cama café, alto-mar
me deixou acordado
até de manhã.

Mergulhador de suas horas,
anoiteço com fogo
pra te acalentar, alto-mar.

Dada a sorte do marejar dos nossos dias,
te fiz Netuno, alto-mar
te declamei capitã
do meu navio pirata.

Traga a lua, meia-luz inteira,
ventura marítima aos que navegam
e a luz coada das estrelas,
fino prumo a desatinos tão belos.


Da pacatez do meu barquejo,
com amor pra navegar:
Matheus Marins, em 09/12/2015

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Onde eu parei?

Hiato sem sílaba.
Uma vogal me puxa pela perna de noite na pista e dança
- Não vai me ligar?
Desengasga um verbo.
E volta a mexer o celular só pelo bloco de notas.

Se preocupa em se despreocupar
se os outros vão gostar, é problema dos outros
é problema seu o que você vai colocar pra fora.
é problema seu o que você vai colocar pra dentro.
o que você colocar pra fora é problema do que você colocar pra dentro.

é salutar, me disseram, se alimentar não só de alimentos bons, mas sentimentos também.
evitar indigestos pra si, pra outrem.
pra ontem o que é de ontem.
=)

----

Estive há alguns meses sem postar aqui no blog - sem sequer escrever. Deixar a escrita de lado foi um trabalho árduo. Nos primeiros meses, não teve sequer um dia em que eu não lembrasse, não sentisse falta e, findo o expediente de coisas quaisqueres que eu fazia, não me sentisse irrealizado por não haver impresso minhas ideias, visões e sensibilidades cotidianas em letras ou formas.
Aos poucos, bem aos poucos, fui aceitando meu tempo. E conforme mais aceitava, mais ia sentindo que eu poderia até ficar bem efetuando outras funções (no caso, música, produção cultural), mas nada se compara à graça da expressão escrita. Tenho experimentado a pintura (menos do que eu gostaria) e tenho encontrado nela muito interesse também. Quem sabe um dia eu mude de ideia quanto à escrita, mas enquanto é isso, escrever pra mim nunca será uma opção. Sigo catoblepas.
O dicionário online e o endereço do blog saíram da memória do navegador.
E depois de mergulhos outros, volto sem saber onde parei, e sem ver-me perdido. Como se estivesse ficado fora por uma semana. Posso começar daqui um ponto novo. E começar outro. E outro.

Matheus Marins

quarta-feira, 27 de maio de 2015

O homem das horas

Sem esforço nem desejo, subia-lhe aos olhos um calor veranil, fatura de memórias com energia demais. Eram de chuva, de preguiça, de estrada e de tédio. Tédio bom, onde já se viu? Ele viu. Foi feliz quem já viu. O calor de lembrá-lo era tal que seus olhos suavam. Suavam um suor sem querer suar de novo.
E cada gota desse suor caía como caísse ele e suas horas inteiras. O relógio parava pra ver e cada segundo que deixava de passar era arrecadado pela garganta embolada com tanto tempo seco pra contar.
Como se os olhos estivessem magoados por não vê-la num domingo vazio.


Matheus Marins,
março 2015

quinta-feira, 26 de março de 2015

da janela #5:

. o vento

Corre o vento
lento pra mostrar
que come o tempo sem pressa
as ambições que o homem

engole sem mastigar

quarta-feira, 25 de março de 2015

-





















O espelho da
transpiração do seu olhar

reflete a vida irremediável
que faz parar respiro,
feito avesso de vida,
para voltar mais vida

seu olhar,
gota d'água sem fundo,
fura o caminho encontrado
por dentro da pedra

rota de fuga
para rotinas
perdidas
no meio do caminho,

viajantes olhos,
olhos, de outras paisagens

vigilantes doutores
de mal contados
amores

generosos operários
de mal pagos
salários

olhos, destemidos
num silencio
de caducar a morte
incluso dos mortos

levemente risonhos
porque viram bastante
para acumular
sabedoria de recriança

seu olhar,
terremoto cardíaco,
já visitou os quatro pontos cardeais
e, do Nordeste,
aponta mineira verdade
se o mundo
coubesse nos olhos seus,
penso, em aéreos planos,
que a família Neves, de política,
não passaria do Tancredo.

14/10/14

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

a maior garota do mundo

Sonhei com você
ontem à noite -

com a razão
que os sonhos
tem,
e a licença poética
do meu travesseiro,
que me desculpe
qualquer coisa
mas,
dos meus lençóis,
nem o do Anérica
acredita mais
quando devaneio que você
tá por aí
e qualquer dia vem

- ou foi agora
de manhãzinha?

Send me the pillow
The one that you dream on
And I'll send you mine

ao som:
The Smiths - Some Girls Are Bigger Than Others

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Final

(em ritmo de narrador de jogo de futebol)

Driblou o zagueiro
Passou a bola pro Pet
Devolve no meio
Recebe na frente

vai
Apontar pro gol
Matheus
Vem o volante na cobertura
quedriiible!

a torcida vai à loucura
Vai arriscar de dentro da área
Saiu o goleiro ficou
No caminho

Agora é só um toquinho
Vai encher o pé!
Olha o pé
Olha o pé
Olha o pé!!!
de papoula indo pro chão

Espatiiifa o vaso de dona Jandira

E agora amigo
Mudas as roseiras e as margaridas

Agora é só correr pro quarto

-
Outubro, 2014

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

assinatura pendente

Entendi o que é a bênção quando tive a luz refletida e macia
Entendi as estrelas, porque tantas
Entendi os amantes, porque tontos.
Entendi Vinícius e Tom, que já devem ter estado ali absortos pela impossível palavra que não se alcança onde já chegamos. Impassível contraditória palavra que não aparece. a acuso e uso todos os meus verbos para tentar de inquantificáveis maneiras te trazer pro meu vocabulário, como naquela festa eu tentava te trazer os olhos aos meus sem enigma. Par de olhos nus na multidão desimportante desde quando eles nus estavam.
Palavra, irresistível vontade de nomeá-la.

Digamos apenas que entendi
a luz vem refletida de um olhar macio e vaga os meus abarrotados olhos
que descobrem enfim e novamente a clareza
de já não haverem visto demais.

sonho

Viver é viajar
E mais que isso, viajar está mais em viver do que na própria viagem.


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Folheio antigas notas do coração pelo quarto
observo o que tenho e contemplo o cenário.

Penso
Deveria ter anotado a data
Como quem pensa
Sequer anotei a placa
daquele caminhão.

1 de agosto 2014

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Mistério das Flores - por Fernanda Moraes



















Ela pescava flores
delas tbm era feita
Eu olhava-a do alto da minha nuvem
que passeava no horizonte

quando desci pra tocá-la já não havia
mais o Rio de flores
havia cores estampadas
no que não via

Onde estaria?

Procuraria entre córregos, oceanos e mares
a espera que seu rio que estivesse desaguasse
em algum mar
Um rio não seca da noite pro dia

Eu cairia lá do alto e andaria no chão e
pelos ares só pra estar perto de vc dessa vez
mas vc não estava lah

Daria a eternidade se pudesse ter mais um dia
com vc, nele não deixaria sobrar um único 
suspiro que afagasse a sua volúpia


A eternidade por um dia valeria
a vida

Lembro de quando vc ficava sentada em seu barco
esperando flores no mar

Ainda passo por seu apartamento todo dia
mesmo sabendo que vc não mora mais lá

È um jeito estranho de dizer que tenho saudade
e de voltar no passado, enganando o presente
e dando uma banda no futuro

Nunca mais te vi e voltei pra minha nuvem
jamais descerei de novo
mas jamais me perdoaria
se tivesse ficado aqui
sem descer pra tentar
tocar seu céu

terça-feira, 27 de maio de 2014

ALHAMBRA - Jorge Luis Borges









Grata la voz del agua
a quien abrumaron negras arenas,
grato a la mano cóncava
el mármol circular de la columna,
gratos los finos laberintos del agua
entre los limoneros,
grata la música del zéjel,
grato el amor y grata la plegaria
dirigida a un Dios que está solo,
grato el jazmín.

Vano el alfanje
ante las largas lanzas de los muchos,
vano ser el mejor.
Grato sentir o presentir, rey doliente,
que tus dulzuras son adioses,
que te será negada la llave,
que la cruz del infiel borrará la luna,
que la tarde que miras es la última.

Granada, 1976.


A luminosidade de Granada percebida por meio de outros sentidos no poema escrito por Jorge Luis Borges quando, cego há já mais de 20 anos, volta a estar na cidade, desta vez com sua companheira Maria Kodama. Borges havia visitado Granada quando adolescente, com seus pais, havendo, como não é de se suspeitar, se apaixonado pelo lugar.
Conta Maria que "a impaciência com que Borges se preparava aquela manhã para a visita à Alhambra, antecipando-a das maravilhas das quais recordava bem e que ela ainda não havia visto, o deixava tão encantado por voltar e mostrá-las que até se esqueceu que estava cego."
Maria Kodama conta também do incômodo que ela sentiu ao cruzar uma das portas da Alhambra e ler uma placa de cerâmica com a escritura de versos de Francisco A. de Icaza:

"Dale limosna, mujer
Que no hay en la vida nada
como la pena de ser
ciego en Granada."

Borges, ao notar, a tranquilizou dizendo:
"Não se sinta mal. Você me apresentará a Alhambra com os olhos de outro Oriente." (fazendo alusão à descendência japonesa de Kodama).

O poema parece remeter ainda à última tarde do rei Boabdil na cidade de Granada, que, perdida, deve entregá-la aos reis cristianos.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Pata-Palo

Quando entrei no bar, a primeira coisa que me chamou a atenção foram aqueles olhos azuis enigmáticos. Desatento, tropecei nos meus próprios passos e dei de cara na primeira pilastra. Ninguém pareceu dar-se conta do meu dom para a autosabotagem, tão cheio que estava o lugar. Assim, perdi de vista os olhos azuis apenas os tendo fitado por tempo o suficiente para ficar envolto por seu mistério. Eram mais charmosos que belos, verdade. Talvez me reservassem algo, pensei. Mas o que não me reservaria nesse lugar tão novo? Embora houvesse algo mais ali, reconsiderei. Eu saberia reconhecer se voltasse alguma vez na vida a esbarrar com aqueles olhos. E apesar do sobressalto, deixei para revê-la ao acaso.
Fui pegar uma bebida enquanto o DJ do bar nos embalava em ritmos latinos desconcertantes. Sopro de metal, cerca de duzentas pessoas dentro do chocalho que era aquele bar. Todo mundo se sacudindo e as bebidas inacabáveis indo metade pro santo, metade pra dança, metade pro amigo, metade pro bêbado. O santo, de tanto brinde ficou ébrio, tirou o anjo da guarda para rodar e lascou-lhe um beijo no meio do teto do bar que agora era festa. Quando o som mudou para salsa e as pessoas não paravam  de se embolar é que descobrimos tratar-se de um terremoto o motivo de tanto rebuliço. Alcançar a porta era difícil e a saída disputada. Sem anjo da guarda nem nada, cada passo dependia de outros duzentos passos dispendiosos.
Quando o local foi por fim totalmente evacuado, algumas pessoas encontravam-se desacordadas e tentei ajudar, embora o meu estado de sobriedade aspirasse cuidados.
De olhos fechados, olhos de cães bêbados, não encontrei aquele olhar azul-enigma. Talvez os olhos estivessem desmaiados, pensei. E quando vi uma garota sendo levada por ambulância, cismei que poderia ser ela. Que poderia ser você.
- Eu sou o irmão mais velho dela, preciso ir junto!
Aguardei na sala de espera impacientemente até onde aguentei. Quando seus olhos se abriram, estavam fechados os meus. Apaguei na cadeira do ambulatório e você foi embora sem me avisar que tinha ficado bem.
Ingrata, pensei.
Mas você nem sabia.
Eu nem sabia se era você. Se era ela.
Consternado, fui procurar o endereço do meu hostel provisório, que me servia enquanto eu não conseguia moradia fixa na cidade.
O quarto, impessoal e impecavelmente limpo, serviu para tomar uma ducha. Quando eu ia saindo para um café na hora da siesta, notei que o dinheiro havia ficado na devastada roupa do dia anterior...
Imagine qual surpresa não foi a minha quando encontrei no bolso da esbórnia apenas uma nota remanescente.
Imagine o que não senti quando percebi que a nota era na verdade um pedaço de papel de receita médica escrito no idioma local com letra que não era de médico.
Eu precisava aprender espanhol.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Mujer que dice chau

Me llevo un paquete vacío y arrugado de cigarrillos Republicana y una revista vieja que dejaste aquí. Me llevo los dos boletos últimos del ferrocarril. Me llevo una servilleta de papel con una cara mía que habías dibujado, de mi boca sale un globito con palabras, palabras que dicen cosas cómicas. También llevo una hoja de acacia recogida de la calle, la otra noche, cuando caminábamos separados por la gente. Y otra hoja, petrificada, blanca, que tiene un agujerito como una ventana, y la ventana estaba velada por el agua y yo soplé y te vi y ése fue el día en el que empezó la suerte. Me llevo el gusto del vino en la boca. (Por todas las cosas buenas, decíamos, todas la cosas, cada vez mejores, que nos van a pasar.)
No me llevo ni una sola gota de veneno. Me llevo los besos cuando te ibas (no estaba nunca dormida, nunca). Y un asombro por todo esto que ninguna carta, ninguna explicación, pueden decir a nadie lo que ha sido.

— Eduardo Galeano, en Vagamundo y otros relatos

domingo, 20 de abril de 2014

Polipoética

as cores sem filtros
brincando de máquina de escrever
à base d'água que passarinho não bebe
brincando de pintar domingo
coloridinho
brincando de sexta feira pra sempre

de emitir nota fiscal:
somando a poesia que faço desses dias
subtraindo a correria.