sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Opus

"Posso resumir minha vida atual em uma música" que desafina nas suas cordas, ou nos seus dedos, por entre os quais meu tempo escorre dissonante. Efêmeras notas que tiro diariamente para a canção. As batidas vêm profundas, de uma bateria incontinente em ritmo indefectível, mas que acelera e descompassa no desafino - refrão. É isso. Todas as estrofes procuram seu refrão, assim como meus caminhos buscam você. Encontram, passam por, para depois voltarem, necessitados.
Nada mais meu que essas estrofes soltas. E nada tão significativo como sua parte na canção. Aquela da qual a gente logo lembra quando canta depois - "essa música não sai da cabeça" - e a quase gritamos em exaltação. Os demais pedaços são sombra, metade, coadjuvantes que só os ouvidos mais assíduos conhecem.
Se o tal resumo de vida atual acabar bem, não será numa estrofe solta, mas no refrão repetido, repetido, repetido, abaixando o volume primeiro sem perceber, depois percebemos, nos preparamos para o fim cantando. Abaixando, baixinho, até nos deixar vasculhando por uma última nota no ar. Esperando aquele verso de novo por favor, só uma vez mais. E, mesmo sem que o dueto desafinado de cordas frouxas tenha dado tão certo, ficamos cantarolando sem música no escritório, no ponto de ônibus, no chuveiro. Mas a próxima faixa quer começar a tocar.


Com muita preguiça,
Matheus Alvares - 05/11/10

3 comentários:

  1. O problema é que algumas vezes não queremos tirar certas músicas da cabeça

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  2. 'Todas as estrofes procuram seu refrão, assim como meus caminhos buscam você.' own, é desse jeito comigo ;~ Adorei o texto. Abraço forte.

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  3. "Todas as estrofes procuram seu refrão, assim como meus caminhos buscam você." também adorei essa parte, adorei tudo. "Mas a próxima faixa quer começar a tocar"

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