sábado, 31 de dezembro de 2011

Queixa

"Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza"


Um Caetano talvez ajude a entender nós dois. Já que a essa hora não posso viver, compreender ou teorizar um pouco me basta para encontrar um nível de envolvimento menos insatisfatório.
Uma espécie de masturbação cardíaca, eu definiria.
Pra tentar acalmar o coração que te sente tardar; os olhos que buscam os seus em qualquer canto para descansar. Atentos, desatentos, negligentes.
Numa paixão desmaiada, em sono leve que lhe basta qualquer bobeira para despertar elétrica, te adio.
Adio um segredo mal guardado, mal revelado. Adio a coragem que suponho ter. Afasto. Aproximo-me.
Cativo um sonho mal vivido.
Vivo um sonho maltratado.
Sonho uma vida mal cativada.
Cativo de nós dois, deixo tanto potencial se tornar.
Só mais um amor mal resolvido.
Que novidade.

"E sonho esse sonho
que se estende
em rua, em rua
em rua
em vão."

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Só uma experiência banal


Apenas ia à praia a jogar futebol quando vi de relance na banquinha de livros antigos e usados de um senhor da minha rua uma capa que eu procurava há muito. Primeiro passei direto, depois voltei e aí acreditei no que via: “Os dragões não conhecem o paraíso”, do Caio. O preço surpreendeu-me ainda mais: módicos 5 reais. Nos sebos online de todo o país, este livro só se encontra a partir de 90 pratas. No mesmo insntante pedi que deixasse o livro reservado. O senhor colocou-o então no seu carrinho de mão. Voltando da praia ele já havia guardado todas as suas quinquilharias e o meu desejado livro de contos havia se perdido na bagunça. Na manhã seguinte voltei à banquinha e consegui enfim comprá-lo.
Agora ao que interessa. O que me chamou mais a atenção nesse livro, que eu já havia lido em grande parte pelo computador, foi a

Das coisas que mais gostei em ter esse livro usado foi poder ver a sua dedicatória: “Ao Paulo pela Ana com carinho te-le-pá-ti-co do A.TL, SP 88."
Na máquina fica além do impossível transcrever lealmente uma dedicatória feita à mão, mas ela é mais ou menos assim. te-le-pá-ti-ca. Gosto da forma como as ideias flutuam numa folha em branco submetida a uma mão e uma caneta.
Gosto das citações no começo de cada um dos contos. Quando não há citação, fico mais intrigado que o normal com o que estará escrito ali e como estará feito este fio entre cada uma das 13 obras que compõem uma só, se você quiser. Sim, eu esqueço muito facilmente das histórias que leio.
Mas o que me deixou realmente cativado foi uma lista que encontrei no meio do livro, como que guardada. Ou guardando uma página, que já desguardei porque troquei a lista de lugar sem perceber direito a página.
Impossível dizer se a pessoa ia viajar, voltava de viagem, se ia fazer compras, o que? Provavelmente ia viajar para ficar por um bom tempo fora. E mais: a lista está pela metade.
Ele leva assim:
"...
Perfume - TOP Internacional
TV/Rádio -
Fitas cassete
Canetas variadas
Lanterna
latas de biscoito
cortes de seda (4m/4,5m) - Pernambucana
Bijoterias - Gerieve
Baralho - ? Mundial
Dominó - ? Mundial
Albu... de ..." UM RASGO

Ao fim uma certeza:
preciso fazer isso com os livros que eu for passar.
deixar um vestígio, algo para o próximo leitor se perguntar, ou se responder. Confundir.
Um vestígio de alguma coisa.

Escreverei um conto sobre a lista. Aguardem.


domingo, 11 de dezembro de 2011

Memória


Acordou preguiçosa, rolou na cama como se tentasse apagar o sono e levantou séria, despenteada. Debaixo do chuveiro, espantou um diário zumbi do corpo. Ligou a cafeteira e ia separar a roupa do serviço quando se deparou com o calendário. 25 de agosto. Tem dia que dói ao ser olhado. Este era vermelho, diferente dos outros, pretos e quase todos riscados – fim de mês. Era diferente, este dia. Fazia exato um ano que seu pai morrera, num lugar bem distante dali.

Inevitável lembrar da infância, dos olhos verdes, dos cabelos antes louros e ultimamente brancos, do jeito, momentos, gostos e cheiros repetentes e repentinos, tanta coisa. Lembrou também de tudo o que acontecera desde então e até a fizera se mudar para seguir adiante. Ainda novíssimo, o lugar. Aí lembrou do relógio que, sobre o calendário, não parava. Lembrou que esqueceu do café. Estava atrasada. Mais um atraso seria intragável como o gosto do café perdido. Mas nenhum amargo lhe parecia tão forte quanto o amargo da falta. Correu.
Na rua o movimento era diferente, notou logo que saiu de casa. Todos pareciam mais alegres, descompromissados. Achou que fosse pelo contraste visual, posto que ela estava especialmente triste e cheia de afazeres. Andou dois quarteirões para esperar pelo ônibus que deixava no centro da cidade e a estátua do primeiro presidente hoje não estava pichada. Logo depois de cruzar a roleta, lembrou que esquecera o crachá – outra vez. Simpatizou com o velho cobrador, em vias de se aposentar, que também não estava lá muito feliz. Sentou perto dele para se sentir mais em casa na sua melancolia. Pensou que talvez houvesse caído ao homem a ficha por ter trabalhado a vida inteira sob o mesmo itinerário.
Meia hora depois, teve de saltar antes do ponto ideal porque a principal avenida da cidade estava fechada. Provavelmente algum acidente sério. Evitou tomar a avenida mesmo a pé. Contornou-a a passos apressados e chegou ao edifício comercial cheirando a suor e ausência, quarenta minutos atrasada – tempo que gastara revirando a estante da memória. Engoliu o choro com uma dessas balas que vendem nos ônibus e, quando ia entrando no edifício, tomou uma porrada não sabe de onde. Hoje não, pensou. Com o coração aos pulos, ela segurou suas coisas com força e deu alguns passos para trás, indefesa. Passaram-se segundos e nada aconteceu, foi quando teve coragem de olhar a sua volta e viu ninguém. Nem do outro lado da rua. Tudo deserto. Apenas um som ritmado vindo da avenida, não sabia o motivo da algazarra. Agora atenta, retomado o fôlego, ia ingressar no seu local de trabalho já reassumindo a tristeza da falta. Foi quando viu seu reflexo se aproximar enquanto chegava perto da porta de vidro que bloqueava a entrada para o prédio. Havia dado com a cara na porta, compreendeu – que tola. Ainda bem que ninguém viu, pensou. Ao lado da porta, um papel colado informando “Em comemoração à independência, dia 25 de agosto não funcionaremos.”
Podia entender um pouco agora. Etnocentrista, achou que a causa da vermelhidão nas letras do calendário, que ganhara numa farmácia, era o primeiro aniversário da morte de seu pai. Saiu da rua deserta e caminhou até a avenida para ver o que se passava. O dia, motivo de orgulho na memória daquele pequeno país, era de festejar. Alguns usavam a data como pretexto para a farra, outros afirmavam discursos de integração nacional. Todos num só sentimento e ela voltou a se sentir estrangeira. Sem conseguir se integrar nem querer estragar a festa de ninguém, voltou para pegar o ônibus e mais um cobrador - este ainda jovem - era triste, dependente. Em função das voltas que precisou dar e dos carros parados de qualquer maneira na rua, o ônibus demorou muito além do habitual e ela conseguiu chegar em casa quando o sol já queria começar a se pôr.
Adentrou seu lar e sentiu o velho odor da ausência. Aroma de pai. Ela com o cheiro da festa da rua. Precisou de outro banho e deve ter se molhado mais com as lágrimas que com água corrente. Ligou no telejornal e reafirmou o que descobrira: dia da independência, integração nacional, alegria. Para ela, dia de saudade, de nó na garganta, dependente de uma memória que não poderia deixar para trás. Comeu algo a duras penas e, quando a tarde anoiteceu, manteve apagadas todas as luzes.
Foi até a mesinha ao lado da sua cama e acendeu uma vela que iluminou de prima a fotografia meio batida de um senhor de olhos claros e cabelo branco, quase amarelo. A luz difusa da vela deixava apenas vestígios do azul latejante de sua colorida blusa. Suspirou ao congelado riso dele. Enquanto os fogos queimavam lá fora, ela, órfã e castrada do coletivo, só queria dormir em paz, sem pais. Amanhã, com o país esquecendo o motivo da festa, que existirá apenas em vestígios nos jornais, nas caras amassadas de ressaca, na memória, ela voltará a pertencê-los.

Matheus Marins Alvares

sábado, 3 de dezembro de 2011

E que se for apenas sonho, que persista firme o vermelho do teu sorriso no meu.
O resto pode ser em preto e branco. São apenas memórias que não distam dos devaneios.


domingo, 20 de novembro de 2011

Nada por mim


Acostumei-me ao teu corpo como por sobrevivência se adapta um bicho a um novo habitat e, por assim dizer, acabei tomando gosto pelo seu território. Primeiro procurei por instinto, a sabor ou dissabor, a qualquer custo suprir-te do que querias de mim. Só por fazê-la satisfeita assim, a troco de teu sorriso – em segredo: só o que eu queria.
Depois, pelos termos do nosso amor didático, comecei a suspeitar as maneiras de te saborear. Como se eu bicho aprendesse a comê-la feito fruta inédita. Estreando pela insípida casca e insistentemente passando a um curioso bagaço onde você me guiava para o seu íntimo. Daí finalmente, conduzido pelos seus calores, desvendava cada vez melhor o jeito certo de te provar. Na minha irracional sede, te devorava a polpa e engolia sorridente o caroço até que você pedisse trégua. Foram assim noites, intervalos, horários de almoço a te tomar enquanto eu passava de bicho a humano e então a dependente.
Apaixonei-me não só pelo sorriso, mas pelos caminhos para fazê-la sorrir. Mantendo o segredo, fiz da sua delícia o meu motivo – afinal, o que é melhor que ver a pessoa amada feliz?.
Não custou até que eu compreendesse o meu papel ao pé da cama. Até você me sorrir com o sorriso que eu te ensinara a sorrir e me propor que a deixasse em paz.
- Não faça assim.

Matheus

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ainda é tarde

musga
Ela falou você tem medo
Aí eu disse quem tem medo é você.
Quem tinha medo era eu.

cedo, cedo, cedo, cedo,
tarde.

domingo, 30 de outubro de 2011

saroH

(...) Interminável e efêmero olhar, me fazendo feliz para sempre em eternidades de dois segundos. Me tocava como se nossos corpos estivessem prestes, o olhar. De forma que, às três rosas da tarde, pareciam as horas floridas para sempre. Dava o relógio inregulares e infindas voltas recobrindo o universo com suas rosas. Cores que chegam sem avisar, que passam sem perceber. No intervalo de olhos que se batem cabem as matizes das horas passadas e de outras que ainda virão.
Quero todas as suas cores nos mais esquecidos tons.

Matheus

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Pintor

Na casa onde eu moro tem uma janela e uma poltrona. A janela da casa é uma moldura para o céu, que pinta há sei lá quantos milhões de anos um quadro diferente por dia. Eu sou fã das obras do céu. Pinta ao vivo e sem descanso, de graça e sequer cobra direitos autorais. O céu é o maior artista que eu conheço, em todos os sentidos.
Eu disse que tenho uma poltrona porque sua relação com a janela é das mais gostosas. Dá um ângulo pelo qual se vê mais céu e árvore que prédios e fios. A arte do homem aqui é antagonista à do céu. Exceto pelas vezes que o homem resolve criar janelas. Adoraria uma janela maior, mas dá pra ser feliz com essa daqui.
Aqui deitado na sala, observando as pinturas ao vivo do meu artista favorito, eu tenho a deliciosa sensação de não precisar de mais nada. Colocaria uma música, mas respeito o trabalho dos pássaros. Pra uma cidade de mais de 500 mil humanos, até que eles fazem mais barulho que o comum na minha casa. Quase não ouço os longínquos motores. Acho motores um desacato aos ouvidos.
Agora o céu desenhou um sujeito parecido com papai noel, só a cabeça, gorro e barba. Será que alguém mais percebeu?
Quando falam mal do seu trabalho, o céu costuma chorar, o que molha todo mundo. Quando o céu entra em depressão, uma galera pode ficar sem casa. É a natureza cobrando as contas do dito progresso. Talvez para as pessoas erradas. Cobrar de quem não tem não parece justo. Mas o céu contiua fazendo o seu trabalho artístico pra quem tem e pra quem deve.
Penso que o céu deve ter um bom patrocinador de tintas azuis.
Acenderam as luzes amarelas da rua, o dia está chegando ao fim. O céu tomou um ar triste.
Mas hoje não vai chover.

Matheus Marins
24/10/11

domingo, 16 de outubro de 2011

Improváveis


Se temos para dois tanto e tão pouco tempo, que dos beijos percamos a conta. Que não baste o ar que falta, nem a confissão desengasgada correndo pelo ouvido. Tampouco bastem os segredos desvelados no relance de olhares ébrios. Que cada gesto carregue a intensidade de uma despedida, tendo ainda acesa a imprevisão de uma estreia.
E façamos florir o que de mais bonito houver nesse campo onde as coisas carecem de nomes, mas transbordam de significados. Que atravessemos confundindo as pernas o nosso tempo de madrugadas e risos frouxos. Com o infinito no olhar efêmero, que sejamos justos com a nossa ventura. É o melhor que podemos fazer.

Matheus

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre interpretar o tempo e observar o seu trabalho silencioso


(...)vê água do mar refletindo amarelo pela luz do sol nos prédios naquele quase final de tarde. Uma vista me curando a retina de outras bobagens que eu só queria esquecer. Águas dançando ante montanhas tão serenas quanto tristes por paradas há sei lá quanto tempo ali. Corpos tomando banho de mar e de sol, correndo e voltando, como as ondas, de lugar algum.
Apenas mirando o fluxo da paisagem e do tempo a tornar tão efêmeros todos nós. Todos nós não mais que passageiros, não menos que agentes influindo e sofrendo influências, construindo aparências e reformando essências. Fazendo fotografias pra lembrar o que já vai passando, conversando pra passar o tempo, correndo pra estar em forma, às vésperas de qualquer coisa. Às minhas costas corre a cidade dentro de metais e rodeada por concreto. Mas vendo o mar a gente quase que contraditóriamente lembra do chão, dos pés que são dois e de como é bom apenas pôr um depois do outro. Vê um horizonte ainda não verticalizado e sabe que pra voar basta errar o chão. Lembra da preguiça, de como ela é valiosa e até necessária em pequenas doses nos dias de hoje.

Eu

segunda-feira, 19 de setembro de 2011


Meu amor, não se atrase na volta não

Mandei uma mensagem a jato às entidades do tempo
Já me foi verificado que nem mesmo haverá segundos
Que os minutos foram reavaliados e que pra cada suspiro serão 10 contados

sábado, 13 de agosto de 2011

é melhor que caminhar vazio

Mas de certas coisas a gente só não esquece: Dos seus olhos florindo os meus e daquele sorriso tão seu brotando uma primavera que, se durou bem mais que uma estação, pagou depois em juros brasileiros a dívida do atraso para sete verões infernais. Mas de certas coisas a gente só não esquece. De outras, a gente só não deveria lembrar.

sábado, 30 de julho de 2011

sonhos

Ato contínuo ao de acordar é esfarrapar sonhos em busca de sabores do que se vivia há instantes atrás. Até que se acha um gostinho, mas o terreno dos sonhos costuma empoeirar num instante... devaneios moleques, se desfazem, se refazem, repensam, desconstróem, criam, quebram, misturam... sem precisar de explicar. É preciso ser sagaz logo cedo se quiser saber da história mais ou menos certa.
O que fascina mais é que quando acordo de um sonho me vejo contando uma história pra mim outra vez... e de vez em quando conto tão bem que até me engano em onde o conto foi de pegar e onde foi de fantasiar.
Porém, o que perturba mais é quando esqueço do que me contei - sempre esqueço, pelo menos a maior parte - e não tenho mais pra quem perguntar, porque eu esqueci.

Dos sonhos, não costumo lembrar muito das cores, nem das falas. O enredo é vacilante... mas algumas partes sempre ficam marcadas. Exemplo: geralmente não esqueço dos sorrisos. São importantes ali. Não só ali! Algumas bocas, quando riem, podem até reverter pesadelo em sonho.
É bom que posso carregar comigo estes risos todos.
Acho bonito de morrer.

Vamos viver este mundo!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amor bom é amor facinho

Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?

Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Minha experiência sugere o contrário.

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.

Ivan Martins

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Seu Sorriso Derretia Satélites

Desta janela encoberta de neblina
Avisto seus brilhos solares atravessando a rua
Escondendo das lentes ofuscantes do sucesso
Seus passos decididos partiam em rotas inexistentes

Por um segundo, senti o bater ritmado do seu coração parar.
Como se o mundo parasse, se o ar faltasse.
Instantaneamente o universo retrocedeu duas décadas de evolução
Depois acelerou tão ferozmente que estrelas colidiram
Escuridão silenciosa fez em seu breve penar

Deste labirinto tortuoso que descrevo meus dias de exílio.
Observo, assustado, o correr natural de seus dias simples.
Como a um terremoto seus passos chocam com astros distraídos.
Destruindo o pouco de paz existente nos cosmos
Volte!

Por um breve instante, minha vida misturou-se com a sua.
Meus tristes relatos, observados com minhas vistas cansadas de esperar
a paz roubada, no instante que colidiu sua rota em meus dias cinzas
Os deuses festejaram a descoberta de uma constelação.

Deste quadro abstrato que minhas retinas incansavelmente entorpecem
Procuro vestígios palpáveis para reencontrar seus braços
Eu, vagando entre o real e o imaginário, suspiro a cada sonho.
Contrabandeando sorrisos puros a cristalizar nostalgicamente a vida

Desta caverna sombria a qual observo tudo contra a luz
Vejo-te flutuar pelo salão principal, deslumbrante e bela.
Ignorando as luzes ofuscantes, vejo apenas seus olhos brilhando,
no escuro opaco, reluzente luas prateadas em noites de euforia
Seu sorriso derretia satélites e corações gelados.

- Caio Fernando Abreu

domingo, 26 de junho de 2011

viver vale a pena


É uma das pessoas mais bonitas que vi nestes últimos dias.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Memória

Acordou preguiçosa, rolou na cama como se tentasse apagar o sono e levantou séria, despenteada. Debaixo do chuveiro, espantou um diário zumbi do corpo. Ligou a cafeteira e ia separar a roupa do serviço quando se deparou com o calendário. 25 de agosto. Tem dia que dói ao ser olhado. Este era vermelho, diferente dos outros, pretos e quase todos riscados – fim de mês. Era diferente, este dia. Fazia exato um ano que seu pai morrera, num lugar bem distante dali.
Inevitável lembrar da infância, dos olhos verdes, dos cabelos antes louros e ultimamente brancos, do jeito, momentos, tanta coisa. Lembrou também de tudo o que acontecera desde então e até a fizera se mudar para seguir adiante. Ainda novo, o lugar. Aí lembrou do relógio que, sobre o calendário, não parava. Lembrou que esqueceu do café. Estava atrasada. Mais um atraso seria intragável como o gosto do café perdido. Mas nenhum amargo lhe parecia tão forte quanto o amargo da falta. Correu.
Na rua o movimento era diferente, notou logo que saiu de casa. Todos pareciam mais alegres, descompromissados. Achou que fosse porque ela estava triste e cheia de afazeres, então a visão contrastava. Andou dois quarteirões para esperar pelo ônibus que deixava no centro da cidade e a estátua do primeiro presidente hoje não estava pichada. Logo depois de cruzar a roleta, lembrou que esquecera o crachá – outra vez. Simpatizou com o cobrador, que também não estava lá muito feliz. Sentou perto dele para se sentir mais em casa na sua melancolia. Meia hora depois, teve de saltar antes do ponto ideal porque a principal avenida da cidade estava fechada. Provavelmente algum acidente sério. Evitou de tomar a avenida mesmo a pé. Contornou-a a passos apressados e chegou ao edifício comercial cheirando a suor e ausência, quarenta minutos atrasada – tempo que gastara revirando a estante da memória. Engoliu o choro com uma bala dessas que vendem no ônibus e, quando ia entrando no edifício, tomou uma porrada não sabe de onde. Hoje não, pensou. Com o coração aos pulos, ela segurou suas coisas com força e deu alguns passos para trás, indefesa. Passaram-se segundos e nada aconteceu, foi quando teve coragem de olhar a sua volta e viu que não tinha ninguém. Nem do outro lado da rua. Tudo deserto. Só um som ritmado vindo da Avenida, não sabia o motivo da algazarra. Agora atenta, retomado o fôlego, ia ingressar no seu local de trabalho já assumindo a tristeza da falta. Foi quando viu seu reflexo se aproximar enquanto chegava perto da porta de vidro que bloqueava a entrada para o prédio. Havia dado com a cara na porta, compreendeu – que tola. Ainda bem que ninguém viu, pensou. Ao lado da porta, um papel colado informando “Em comemoração à independência, dia 25 de agosto não funcionaremos.”
Podia entender um pouco agora. Etnocentrista, achou que a causa da vermelhidão nas letras do calendário, que ganhara numa farmácia, era o primeiro aniversário da morte de seu pai. Saiu da rua deserta e caminhou até a avenida para ver o que se passava. O dia, motivo de orgulho na memória daquele pequeno país, era de festejar. Alguns usavam a data como pretexto para a farra, outros afirmavam discursos de integração nacional. Todos num só sentimento e ela voltou a se sentir estrangeira. Sem conseguir se integrar nem querer estragar a festa de ninguém, voltou para pegar o ônibus e mais um cobrador era triste, dependente. Em função das voltas que precisou dar e dos carros parados de qualquer jeito na rua, o ônibus demorou muito além do habitual e ela conseguiu chegar em casa quando o sol já queria começar a se por.
Adentrou seu lar e sentiu o odor de ausência. Ela com o cheiro da festa da rua. Precisou de outro banho e deve ter se molhado mais com lágrimas que com água corrente. Ligou no telejornal e reafirmou o que descobrira: dia da independência, integração nacional. Para ela, dia de saudade, de nó na garganta, dependente de uma memória que não poderia deixar para trás. Comeu algo a duras penas e, quando o dia escureceu, apagou todas as luzes.
Foi até mesinha ao lado da cama e acendeu uma vela que iluminou de prima a fotografia meio batida de um senhor de olhos verdes e cabelo branco, quase amarelo. A luz difusa da vela deixava apenas vestígios do azul latejante de sua colorida blusa. Suspirou ao congelado riso dele. Enquanto os fogos queimavam lá fora, ela, castrada da nação, só queria dormir em paz. Amanhã, com o país esquecendo o motivo da festa, que existirá apenas em vestígios nos jornais, na memória, ela voltará a pertencê-los.

Matheus

sábado, 18 de junho de 2011

Rakushisha

Para andar, basta colocar um pé depois do outro. Um pé depois do outro. Não é complicado. Não é difícil. Dá para ter em mente pequenas metas: primeiro só a esquina. Aquele sinal com faixa de pedestres e o homem esperando para atravessar com um guarda-chuva transparente e um cachorro de capa amarela.
O cachorro parece um labrador e olha para mim quando me aproximo.
Tem uma cara afável. Somos ocidentais nós dois, amigo. Se bem que você talvez tenha nascido aqui, não é? Nasceu? No canil de um criador? Claro, onde mais, você me responde, com a paciência dos labradores.
Eu não nasci aqui. Não sei se você está muito interessado em saber. Sou do outro lado do planeta. Pode-se dizer que vim escondido dentro da bagagem de outra pessoa. É como se eu tivesse entrado clandestina, apesar do visto no meu passaporte. De fininho, para que não me vissem, para que não vissem as coisas invisíveis que eu trazia na mala. Que ninguém me veja ainda, que ninguém suspeite. Nesse sentido sou bem mais ocidental do que você, amigo de capa amarela. Não pertenço a este lugar.
E por que exatamente estou aqui, então, você poderia me perguntar se tivéssemos mais tempo para trocar olhares, se a sua coleira e o seu dono já não fossem te puxando para as suas obrigações - sejam elas quais forem, acompanhar, guiar, divertir.
Não sei muito bem, para ser honesta. Estive reaprendendo a andar. Estou reaprendendo a andar. Depois da tempestade, da era glacial, da grande seca, a gente pode usar a imagem que quiser, ninguém vai se importar muito, afinal, quem somos nós se não menos do que anônimos aqui. Abriu-se esta porta. Agora não dá tempo de te contar como aconteceu. E ainda não sei se andar equivale a lembrar, se equivale a esquecer, e qual das duas coisas é o meu remédio, se nenhuma delas, se nenhuma opção existe e se andar é o mal e o remédio, o veneno que tece a morte e a droga que traz a cura. Se vim para lembrar - se vim para esquecer. Se vim para morrer ou para me vacinar. Talvez eu descubra. Talvez nunca seja possível descobrir, desvelar, levantar o toldo, remover qualquer traço de ilusão de caminhar.
Seja como for. É só colocar um pé depois do outro.

Adriana Lisboa, em Rakushisha
Tá na minha lista de coisas a ler

quinta-feira, 16 de junho de 2011

ruim

To numa vibe de relembrar amores mal acabados. Não que exista no meu mundo algum amor assim, bem acabado como uma pintura que a gente emoldura e pendura com algum orgulho na parede do corredor por onde passa diariamente e dá bom dia com ânimo. Não que no meu mundo se dê bom dia com algum ânimo. Pelo menos não nos dias destas recordações. A gente se revira sem força no cobertor, distorce o passado e pensa que podia tudo ter ficado bonito e promissor como o início do quadro. Mas a tinta borrada que surge é a parte que mais aparece, até transcende como uma ferida, e dói.
Claro, nem sempre é o borrão que acaba com o quadro. Às vezes a gente começa a pintar torto, de perto não percebe, só quando vê que não tem mais como acertar tanto erro. E aí ou assume o quadro assim ou deixa ele pra recomeçar. Às vezes fica até bom, o erro.
Tem tb os quadros que perdem a graça no meio da pintura e ficam assim inacabados, completados pelo branco de vazio e de paz.
Não falei ainda dos que a gente largou mas quer retomar pra, dessa vez, caprichar nos tons. Só que essas coisas não costumam se pintar a apenas duas mãos. São ao menos quatro e, por trás das mãos tem seus autores, depois o que eles querem e o que podem, e o que pensam, suas vivências e como percebem aquilo tudo. Queremos saber se tem parceria na composição de uma obra até ficar subjetivamente legal. Mas a gente nunca sabe.

É capaz que a qualquer hora ele termine.


"As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se –
depois de tudo – tenha "ela" partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer."

Mário Quintana

sábado, 11 de junho de 2011

Intro

Do jeito dele de chegar olhando bonito pros outros. Nem de baixo nem de cima, mas pelo mesmo nível, mostrando que não se considera melhor que ninguém. Um olhar consciente, interessado e interessante. Sabido de que nem tudo que ver vá ter uma explicação ou lógica. E despreocupado de buscar realidade em tudo. Finalmente, um olhar sem localização exata, porque às vezes enxergava por outros meios o que não era visível aos olhos. E um olhar verdadeiro, um mergulho em sabores de estrada, de amigos, de noites quentes, de corações partidos. Um olhar interminável, motivo pelo qual não consigo terminar esta descrição. Um olhar injustiçado pelas palavras que uso para descrevê-lo, posto que não poderiam nunca ser repetidas no mesmo texto, uma vez que também o seu olhar jamais se repete.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Reflexão de segunda


Segundas feiras sabem ser duras. Na garganta resiste um resto de perda, de álcool do final de semana. E o corpo já quase inerte segue adiante como que sem sentir o mundo batendo a cada passo. A cabeça, adormecida dos demônios da vida, é simples. Direta ao ponto. Na segunda não podemos com spam, com filas, com esperar pelo troco. É como um carro sem freio que queremos parar após tê-lo acelerado demais. Quase sem combustível, a gente tira o pé do acelerador e apenas assiste, torce para não bater em nada, para não incomodar nem ser incomodado. Depois, quando vamos parando, quando o dia vai terminando, talvez venha pequeno um impulso de movimento, ainda vagaroso, ainda preguiçoso, quase indiferente.

Matheus

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Busca Implacável

Amanhecia. E porque amanhecia ele precisava fazer tudo novamente: cheirar bem, vestir uma roupa limpa, não se atrasar para bater o cartão... Se ele não cumprira o dever estabelecido para a noite –dormir-, não importava. E não o cumpria há quatro dias. A sensação era de que não sonhava há séculos. Não conseguia sonhar, nem acordado. No apartamento agora vazio, vendo a cidade de São Paulo pelo 13º andar, olhava pela janela só pra ver se não achava um resto de sonho expulso por algum cidadão desnorteado pelo despertador. Depois, olhava janela abaixo por alguns minutos mas acabava concluindo: “saída pra covardes”. Fechava a cortina para abafar a realidade e ia preparar seu café. Muitó pó, água quase nenhuma. Ficava um líquido meio poroso, amargo independente de quanto açúcar colocava. É assim que ele gostava. Depois de uma dose dessas, molhava as mãos na água corrente e apertava os dedos gelados contra as pálpebras: “Eles jamais me derrubarão”. O gelado não estava só nos dedos, estava na alma e nada nem aquele café quente consegue esquentar.

Passa noite, dia, madrugada e a vida dele continua fora da órbita, imersa naquele caos, tão familiar. Levanta pesado para tentar viver mais um dia, nos olhos o disfarce de alegria.
Não agüentava o peso.
Anos se passaram enquanto ele tentou se encaixar. Começou a caçar um destino, importância demais para algum lugar suportar... Pretendia compensar o resto de vida.
Mas na mochila....Ele já sabia o que precisa levar. Pegou alguns clássicos, outros livros ainda não lidos. Não queria levar nada da sua vida antiga....Talvez levasse só as idéias. Levou 2 mudas de roupas, um casaco e algumas cuecas.

Ainda não podia supor para onde ia, nem quando ia voltar. Escreveu bem rápido um bilhete e prendeu na porta. Saiu, naquele horário habitual, no seu mundo ainda era dia.
Pegou o ipod queria uma música. Não escolheu nada. Não era bom com escolhas, nada parecia servir para aquele momento.
Desceu a Augusta hesitando se devia continuar, cogitou voltar correndo e se esconder debaixo das cobertas mas seu pensamento gritava ‘’você não pertence a este lugar’’
Chegou no ponto e o vento da madrugada batia nos seus cabelos, a cidade agora parecia tão diferente, parecia mais real.
Pegou o primeiro ônibus rumo ao aeroporto.



Matheus e Isabelle

domingo, 15 de maio de 2011

Um pedaço que falta

A única pista que eu tinha dele era o envelope com o endereço de Porto Alegre. Encontrara, entre as bagunças da sala, uma carta de 98 nunca respondida. E você imagina o que treze anos não fazem... Muito maior essa barreira temporal que a quilometragem infinda entre Rio de Janeiro e POA. E por falar assim, supõe-se que eu queira reencontrá-lo. Não sei. Nunca soube exatamente sobre nada na vida. Dou os passos como um carro em alta estrada pela noite: enxergo um par de metros à frente e vou atropelando o asfalto sem ver placa, sem querer chegar. Foi assim sem saber que, por uma linha me conduzindo no caminho ou só por mudar a rotina no feriado, comprei passagem para Porto Alegre e pedi a um amigo de lá um pouso para estes dias. O envelope na mala.
Do alto do avião vi um rio, mentiroso, que corria para o mar. Se fazia de manso mas não era. Também imaginei o clima, mentiroso. Um frio sem fim no primeiro passo fora do avião, apesar do sol. Mentiroso também eu, logo entendi a linha que me guiava. Torta de saudade. E eu sem responder uma carta. Ele deve ter ficado ferido e resolvido não enviar mais nada. Vai ver até me esqueceu.
Já hospedado, anotei no celular o residencial do meu amigo como "Casa". Nada mais justo. Saímos com um pessoal à noite do primeiro dia lá. Nada demais, com exceção ao caminho até um bar que visitamos. Bela cidade. Queria vê-la de dia também. Acho que só se conhece um lugar depois de presenciar suas formas às claras e às escuras. Assim, amanhecendo no prédio, deixei um bilhete e fui. Mesmo rumo, belezas, mas, não sei a partir de quando, me desvirtuei do caminho e dei na rua Manuel de Barros, quando era para ser Almirante Barroco. Por sorte carregava um mapa. E há de ser ridículo que, investigando os bolsos, descobri ter confundido o mapa com o envelope. Ainda mais ridículo o fato de que o endereço no envelope era da rua Manuel de Barros! Irreversível. A passos largos fui até o número 83 -do envelope. E hesitei, senti vergonha. Vi se ninguém passava pela rua e me apoiei no murinho da casa para espiar. Isso bastou para um mentiroso pastor alemão - era para ser dócil - do quintal ladrar ensandecido, tentando me atacar e despertando os cães da vizinhança toda, que despertavam suas respectivas vizinhanças da mesma forma. E assim parece que toda cidade ainda latia quando desci do táxi na porta do prédio do meu amigo. Subi aos sufocos para um banho. Limpo, menos assustado, deitei no sofá e cadê o meu celular? Provavelmente pela bagunça da mala. Do número de casa, liguei e esperei o som sair debaixo das roupas, talvez. O som não veio, mas chamava. Permaneci na linha até que
- Alô.
Reconheço instantaneamente a voz madura, meio grave, meio gasta do tempo, da vida. Gelado, não consigo responder.
- Alô, tem alguém? Achei este celular na rua, me ouve? Olha, gente, eu desligo.
Então respondo por reflexo, tremido de culpa.
- Papai, sou eu.



Matheus, 06/05/11

quarta-feira, 11 de maio de 2011

ect

Desculpe a demora em escrever. Mas te conhecendo a fundo como suspeito conhecer, sabia que você me esperaria com aquele velho otimismo quase clichê:
- "se já esperei por ele tanto, tanto, tanto, quer dizer que não vou ter que esperar mais muita coisa. quanto mais eu espero, menos eu vou ter que esperar. é."

Desculpe também essa língua solta, meio sincera demais. As palavras devem chegar aí suadas de tanto correr, que elas estão anos atrasadas.

Mas olha, achava que te esquecia com o tempo. Que nosso amor seria como um sol se pondo, bonito de doer, porém efêmero e abrindo as portas para a escuridão. Por isso quis congelar o pôr do sol e guardá-lo no bolso assim como estava: lindo, inofensivo. Talvez agora lendo você ria, divertida, lembrando do meu medo do escuro quando eu pedia para deixar uma brecha da porta aberta vazando luz pra dentro do quarto enquanto a gente dormia. Talvez não. O que importa é que, depois de tanto sol se pondo, estou pronto para tirar esse amor do bolso e encarar a noite contigo. Daí amanheceres e tudo cíclico, que quando chover também vou estar do teu lado, ardido dos sóis e das bebidas fortes da sua terra.

A sua falta me deixou um pouco tonto... ou talvez tenha sido o rum. Penso que posso estar escrevendo tudo isso em vão. Quiçá minha letra não esteja mais no seu alfabeto e você já não entenda quando balbucio saudades sem condições. Meu sentimento pode estar banido do seu vocabulário, assim como eu, que porventura você não tenha conseguido parar de esquecer desde que fui embora. Esse coração míope de quem não enxerga futuro em nada provavelmente não me tenha perdoado.

Seja como for, como anda você? A imaginação prega peças na gente. Às vezes penso cada coisa...
Seja como for, eu volto logo, me espera. Chego pouquinho depois desta!

Foi numa sala de ECT do Rio de Janeiro que jazia mais uma carta que, em tempos de e-mail e sms, voltou e rebateu nas mãos sujas de carimbo de um funcionário curioso fazendo hora extra. Amassada, atrasada, descuidada, suada, duvidosa com palavras que não paravam de correr.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tarifa: R$ 2,50

¬¬

- Meu protesto contra o preço do transporte municipal sempre foi ir a pé. Mas vou separar a minha onça: amanhã pego o ônibus. Só que falei: se o cara tiver o troco, eu não passo da roleta. Fazer o que? A nota de 50 é bonita, meu jeito cretino de contestar. Além de que, se eu passar a pegar ônibus agora, as empresas vão poder contar que uma pessoa a mais passou a usar o transporte depois do aumento no preço. Deixar de usar por causa de 20 centavos, ninguém vai. E aí vai que elas resolvem apostar na ideia da soma? Se aumentarem a passasgem pra 3 reais, por exemplo, vão ter de inventar uma nota de 60 pra poder castigar mais o trocador por alguma passividade do governo. Então prefiro não pegar ônibus por agora. Não, não acho isso bonito, mas é que não é só a gasolina que anda cara, o álcool também. E, como você sabe, tem que sobrar um trocado pra cerveja no final de semana. Tô andando muito! Baratinho. Levando em conta as geladas todas, faço mais de 30 km/litro. Não tem 1.0 que me peite em questão de economia.
Tava falando do que mesmo? Ah, a passagem. Mas, lembrei, a minha bolsa atrasou, mal tenho nota de 2. Foi mal. Mas pro final de semana já deve ter caído, a bolsa. Chega lá no bar, vou de onça.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cada madrugada quieta e nublada tem o sabor do coração de quem a vive
E se tanta nuvem sufoca, alguma Falta te engasgou. Falta não desce só.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Vitória?



Comemorar a morte de um ser humano me parece um tanto indigesto
Mesmo sendo a morte de um indigesto, ainda me parece um tanto desumano tudo isso.


Talvez eu não seja capaz de entender mesmo o que é isso, afinal eles é que foram afetados.
Essa euforia toda não desce. Nem a história do corpo que ninguém viu.

domingo, 1 de maio de 2011

Primeiro de maio


Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é senhor das suas mãos
E das ferramentas
Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é bendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu
Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro pra se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhar do seu ventre
O homem de amanhã
Chico

sábado, 30 de abril de 2011

Centésimo cafézinho

- Bom dia.
- Mais ou menos.
- Quê?
- Mais ou menos.
- Como assim, mais ou menos?
- O dia, está mais ou menos.
- Mas foi um desejo, não um comentário.
- A.
- Não se cansa de ser esquisito, né?
- Também te desejo um bom dia.

Matheus, 04/2011

terça-feira, 26 de abril de 2011

contundentes delicadezas 1

Amaram um amor tão bandido que até suas horas de vida haviam sido furtadas. Arrancadas do sonho de um poeta, estas horas eram assim infindas e belas de causar estranheza aos corações petrificados da selva de pedra que tiveram de desabitar: as autoridades locais declararam como proibido amar fundo demais: atrapalhava no trabalho e em outras bobagens, de forma que precisaram ir morrer em outro lugar, longe daquele povo que já era morto sem saber.

Matheus, 26/04/11

quinta-feira, 21 de abril de 2011

away, away

Fora para o feriadão.
Até mais, pessoal!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Do outro lado do tempo

Um homem e uma mulher que se sorriem e se abraçam sentados num banco olham direto para mim. São simpáticos e definitivamente têm um momento feliz. Atrás deles, há uma criança agachada pegando na terra algo que não sei. Patos e pombos por perto. É um bonito parque no meio da cidade e de uma primavera qualquer.
Olhando essa fotografia parece que tudo foi belo entre nós o tempo todo. Porém não sei precisar a partir de quando, não sei onde a primavera desandou e assim, insensata, à queima roupa, tu me foste um desacato. Se eu soubesse no início - antes de tudo, quando ainda bem jovens - como você me doeria, me dói e ainda doerá em noites como esta, engasgadas de sonhos cortados, perdidos, de feridas clichês jorradas sob o luar. Se apenas suspeitasse, no início, do desacato que tu me serias, mesmo assim teria feito tudo o que fizemos. E sigo fazendo, em solo, agora meio sôfrego para me livrar de correntes de angústia feito um cão que se sufoca na coleira tentando fugir. Tento um tanto, incansável por vezes ou outras, depois me falta o fôlego e me rendo à falta. Falta de alguma droga sua.
E sigo assim: um junkie desesperado sem ter sua dose semanal de heroína. No meu caso, vilã (=P).
A criança na foto, nosso filho Caio, é quem entra no quarto escuro às pressas e ainda com a roupa do trabalho. Me levanta do chão para a cama e serve meus sossegos na forma de comprimidos. Me olha delicado mas precisa sair. Como cresceu rápido.
Aquelas pessoas na foto agora me olham e se riem divertidas, concordando em não serem felizes para sempre, parecendo sem medo deste fim que arrasto agora em compassos incertos. Ah, mas se eu pudesse recomeçar... riria com ainda mais força na fotografia.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

- O desconhecido aproximou-se de mim no saguão do aeroporto e disse: "Pode deixar que carrego sua mala. Também vou viajar." Seis meses depois ele era o meu marido...
As coisas, as pessoas que encontramos pelos bares nas manhãs de segunda são sempre surpresas. Peguei o hábito com uma ex-companheira: toda segunda às 7 me engravato, desço à rua e paro no primeiro bar de esquina que vejo no caminho escolhido. Pego uma mesa que dê para olhar os que ainda não foram embora e também os que passam olhando meio torto pra gente. Só aí peço minha saudosa, revigorante, a minha necessitada dose de toddynho. Então continuo ouvindo.
- ...e tinha de ser assim mesmo. Não se submete o amor à mediocridade do que se julga apropriado ou não.
Era uma mulher de olhos cansados que afirmava, tarimbada pelo tempo, coisas que seus colegas de mesa só compreenderiam em completude tendo o mesmo tempo pelo qual ela havia passado - se compreendessem. Estavam lá apenas tentando preencher um vazio, experimentando o máximo de coisas que lhes fosse possível.
Enquanto suponho a vida alheia no olhar, termino quase despercebido o meu toddynho. Importa que não sei precisar exatamente quando, mas os olhos cansados da mulher bateram de frente com os meus. Medusa. Minha leitura matinal se desvirtuou. Tornei-me órfão do falso brilho. Ela virava a cara e sumiam os olhos. Aí veio a falta dos dois globos oblíquos, esportivos, que amaciam antes de petrificar.
Mudei para a mesa dos olhos sem pedir - não conseguiria falar. As crianças, não vi mais. Ficava horrorizado com eles - os olhos - como se uma faca me invadisse o peito, como se desse um salto ao precipício, completamente nu. E queria mas não queria a faca rasgando mais fundo, o salto mais longo. Viciado na dor dos olhos dela, fiz de tudo para não perdê-los de vista. Bebidas fortes e outras drogas ela oferecia meio mandona e eu aceitava querendo agradar.
Segunda, nove da manhã - quando deveria estar chegando no escritório, disse pela primeira vez vamos lá no meu apartamento ouvir um som. Ela não parava de falar, eu só compreendia o que queriam me dizer os olhos. De alguma forma, descobri ser uma conversa muito mais rica e sincera a que estes costumam ter.
Na vitrola pus um disco do Chico e o teu olhar era de adeus. Estranhei, servi uma taça de vinho e fui rapidamente ao quarto arrmar a cama com o que tinha de melhor lá em casa. Quando voltei para a sala ela havia se atirado da janela.

Amargo

A realidade dói quando abate nossos sonhos muito depressa.
Desacato pra quem espera: sonha noite de lua cheia,
Acorda feridas jorradas, nuançadas sob luzes ausentes.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Velho bandido

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim

Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim

Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons


Chico Buarque

domingo, 20 de março de 2011

Tempo vai, vento vem

E o vento leva.

Madrugada outra vez. No céu a lua cheia de noites vazias. Corre o tempo em câmera lenta. Passos apertados e, pelos dedos, cinzas de cigarros. Pelos devaneios, cinzas de lembranças. O tempo fecha, ameaça chover e o asfalto não molha. Sua vida tem sido assim: a iminência; não sabia mais de que. A expectativa por uma mudança, uma pessoa, outra fase, não importa. O que tiver de diferente por favor que piorqueissonãofica. Mas o mundo inteiro sabe que fica.
Foi quando começou a chover. Ele estranhou, pois queria mesmo um bocado d’água. Reduziu o passo até parar no meio de uma rua menos movimentada, plena reflexão. Deixou-se encharcar e viu que a água poderia limpar suas mãos das cinzas de um cigarro banal, porém jamais o aliviaria a lembrança - pelo contrário. Dentro da roupa molhada, primeiro vislumbrou-a correndo, divertida sob a chuva durante um carnaval qualquer. Poderia ter sido uma doce recordação, mas - embriagados devaneios - não soube precisar como ela era – cinzas – o que trouxe-lhe certa aflição. Olhando ao redor reconheceu que poderia já ter estado ali com ela. E desconfiou que talvez neste momento alguém a estivesse levando para correr em uma rua como aquela, numa cidade como aquela e com roupas como as suas. Voltou a andar. A chuva parou. Ela voltaria - não a chuva, ela.-? Pela noite, passou a acreditar possuir uma conexão com ela em outro plano e talvez por isso não soubesse definir nem lembrar quase nada além de seus sentimentos. Mas sabia que já estivera mais próximo dela. A reconhecia de alguma memória. Mirada pelo triste céu de São Paulo ou ardida das areias do Nordeste. Foi então que pensou uma solução: juntando as cinzas da lembrança, tentava elaborar a estátua mais bonita para apelidar com o seu nome – se lembrasse nome. Catava com as duas mãos, juntava e colocava monte sobre monte antes de começar a dar formas. Obviamente nem conseguiu terminar os pés. Cinzas são leves e insensíveis demais. Gostam de liberdade e seu maior amigo é o vento. E como ventava nos pensamentos desse cara. Talvez não fosse mesmo bom brincar com uma lembrança meio morta.

Contemplando uma velha amarga angústia, ele traçava a cidade na madrugada, agora afim de uma dose da bebida mais forte que encontrasse, para ajudar a engolir qualquer coisa presa na garganta. Sua sombra desfilando na luz amarela repercutida pelo asfalto molhado. E a vida ardendo entre sonho e realidade. “Afinal, ela existiu?”

Já arrastando o hoje na conta do ontem, vazio, esperava o amanhã trazer uma resposta.


Matheus Marins
20/3/2011

sábado, 12 de março de 2011

Um pedaço do céu

Nesse momento - dizem que cabe aos homens esse gesto, e eles eram mesmo meio antigos - talvez ele tenha pensado em oferecer um cigarro a ela, em perguntar se já tinha visto aquele filme, se queria tomar um café no Ritz, até mesmo como ela se chamava ou alguma outra dessas coisas meio bestas, meio inocentes ou terrivelmente urgentes que se costuma dizer quando um desses rapazes e uma dessas moças ou qualquer outro tipo de pessoa, e são tantos quantas pessoas existem no mundo, encontram-se de repente e por alguma razão, sexual ou não, pouco importa se por alguns minutos ou para sempre, tanto faz, por alguma razão essas pessoas não querem se separar. Mas como ele era mesmo sempre um tanto lento, não perguntou coisa alguma, não fez convite nenhum. Nem ela. Que lenta não era, mas apenas distraída. Ela então sorriu pela terceira vez, e já de costas abanou de leve a mão abrindo os dedos, como Sally Bowles em Cabaret, e continuou a descer a rua Augusta. Ele também sorriu pela terceira vez meio sem jeito como era seu jeito, enfiou as mãos ainda mais fundo nos bolsos, como Tony Perkins em vários filmes, coçou a barba por fazer e resolveu subir novamente a rua Augusta.

CFA

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Que o sol se pondo esquece alguns raios por entre as nuvens e o resultado é uma cor de ouro que deixa o próprio ouro com uma cor sem graça, e um valor esquecido.

Matheus

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

!

Era uma bela madrugada de verão quando acordei, meu travesseiro encharcado apoiando a cabeça. Mesmo com a luz apagada, podia notar: parte do meu cérebro havia derretido e escorrido por meu ouvido direito, molhando todo o travesseiro dormido sobre a cama. Na hora não senti muita falta. Pendurei o travesseiro no varal e espalhei eucaliptos pelo chão para aproveitar a sauna. A noite seguiu seu rumo natural.

Hoje, passado cerca de 1 mês, suspeito que a parte liquificada dos meus pensamentos correspondia à literária, de forma que doravante acredito ter a inteligencia de um travesseiro (digo um travesseiro ordinário e não o meu, beneficiado) para transcrever esses lirismos que pintam devaneios adentro.
Por precaução, passei a senha do blog para o mesmo e espero que ele faça bom proveito.

Att,
Matheus Marins

domingo, 30 de janeiro de 2011

E quando eu lhe telefonei, desliguei foi engano
O seu nome não sei
Esquecí no piano as bobagens de amor
Que eu iria dizer, não... Lígia, Lígia

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana
Um chopp gelado em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon

E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão, o seu nome rasguei
Fiz um samba canção das mentiras de amor
Que aprendí com você É... Lígia, Lígia

Você se aproxima de mim
Com esses modos estranhos e eu digo que sim
Mas teus olhos castanhos
Me metem mais medo que um dia de sol
É... Lígia, Lígia

E quando você me envolver
Nos seus braços serenos eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo que um raio de sol
É... Lígia Lígia

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Para você, desejo o sonho realizado. O amor esperado. A esperança renovada. Para você, desejo todas as cores desta vida. Todas as alegrias que puder sorrir. Todas as músicas que puder emocionar. Para você neste novo ano, desejo que os amigos sejam mais cúmplices, que sua família esteja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida. Gostaria de lhe desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente... Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua felicidade.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 2 de janeiro de 2011

Sabe tudo

O homem que diz "dou"
Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "tou"
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer...

Não!

Eu só vou se for pra ver uma estrela aparecer na manhã de um novo amor...