A primeira nota vem do piano de Chopin. Naquela sequência embalada, o de camisa verde se desprende do resto e termina de engolir seu doce. Sente um bem-estar danado, a luz no ambiente é opaca, mas ele vê cores mais brilhantes, muito brilhantes. E pensa que Chopin possuía quinze dedos em casa mão. Extasiado, encontra um coelho branco brincando com as cores no meio da sala.
Mal o pianista termina suas notas, entornam na sala acordes de Just Like Heaven. E o de vermelho se destacou e jorrou pela veia um bocado de heroína. Euforia, calor e conforto o fazem mesmo se sentir Just Like Heaven. O mundo pende por um fio no qual ele dança, sapateia, salta e urra aquilo que lhe apraz aos três ventos que saem do ventilador. O que vem depois não importa, pensa.
O que vem depois é a poesia nos versos de Arnaldo Antunes. É quando o cara de azul se solta para embeber mais um pouco de benzina no pano e sorver outro vale milhas e milhas de viagem de três minutos, é para onde? Paris? Acapulco? Novo México? Marte? Lua? Sol? Sala de estar. Está consumado.
Acaba a última música da playlist, fim. E eu, o de branco, lembro-me que sou a soma daqueles três. Não percebi em quantas partes me despedacei e quantas colorações deixaram escapar entre cada viagem. Sei que restou apenas a mistura de três cores primárias no que era tanta, tanta vida que dava inveja ao arco-íris.
E o de verde está paquerando uma pedra de crack. A vida se esvai contraditoriamente. Minha camisa vai ficando lilás.
Matheus Marins Alvares - 06/06/10
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