quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Conversa

Gosto do silêncio que faz a chuva. Esse som molhado, insistente, finito. Do cheiro também gosto, mesmo não sendo mais o de terra molhada. Pode ser o do gato, do cachorro encharcado desfilando, bobo vadio, nesse chão preto, duro como a vida nas cidades.
Chamo de silêncio o que faz a chuva porque abafa o que há de pior na quietude desses centros: essa camada sonora feita dum ronronar contido, poluído e doente dos motores reclamões que correm lá embaixo para todas as direções e vindos de todos os lados. Do cheiro dessa rosnação toda então, nem falo. Falo. Cheiro preto, entupido, que me engasga a garganta e dá um nó que às vezes nem identifico. Fico assim sem saber dizer se é saudade da terra molhada na rua lá fora ou um grito seco preso aqui dentro. “Mas gritar assim? Logo você, tão calmo, compenetrado...” “Pois é. Às vezes a gente acaba desabando um pouco. Desabafando, digo.”

“Um minuto! Vou ali na rua beber essa tempestade.” “?!” “Fica mais fácil de engolir o choro.”

Sei lá, eu devo ser meio hippie.

Matheus Marins, 07/10/10

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