Amanhecia. E porque amanhecia ele precisava fazer tudo novamente: cheirar bem, vestir uma roupa limpa, não se atrasar para bater o cartão... Se ele não cumprira o dever estabelecido para a noite –dormir-, não importava. E não o cumpria há quatro dias. A sensação era de que não sonhava há séculos. Não conseguia sonhar, nem acordado. No apartamento agora vazio, vendo a cidade de São Paulo pelo 13º andar, olhava pela janela só pra ver se não achava um resto de sonho expulso por algum cidadão desnorteado pelo despertador. Depois, olhava janela abaixo por alguns minutos mas acabava concluindo: “saída pra covardes”. Fechava a cortina para abafar a realidade e ia preparar seu café. Muitó pó, água quase nenhuma. Ficava um líquido meio poroso, amargo independente de quanto açúcar colocava. É assim que ele gostava. Depois de uma dose dessas, molhava as mãos na água corrente e apertava os dedos gelados contra as pálpebras: “Eles jamais me derrubarão”. O gelado não estava só nos dedos, estava na alma e nada nem aquele café quente consegue esquentar.
Passa noite, dia, madrugada e a vida dele continua fora da órbita, imersa naquele caos, tão familiar. Levanta pesado para tentar viver mais um dia, nos olhos o disfarce de alegria.
Não agüentava o peso.
Anos se passaram enquanto ele tentou se encaixar. Começou a caçar um destino, importância demais para algum lugar suportar... Pretendia compensar o resto de vida.
Mas na mochila....Ele já sabia o que precisa levar. Pegou alguns clássicos, outros livros ainda não lidos. Não queria levar nada da sua vida antiga....Talvez levasse só as idéias. Levou 2 mudas de roupas, um casaco e algumas cuecas.
Ainda não podia supor para onde ia, nem quando ia voltar. Escreveu bem rápido um bilhete e prendeu na porta. Saiu, naquele horário habitual, no seu mundo ainda era dia.
Pegou o ipod queria uma música. Não escolheu nada. Não era bom com escolhas, nada parecia servir para aquele momento.
Desceu a Augusta hesitando se devia continuar, cogitou voltar correndo e se esconder debaixo das cobertas mas seu pensamento gritava ‘’você não pertence a este lugar’’
Chegou no ponto e o vento da madrugada batia nos seus cabelos, a cidade agora parecia tão diferente, parecia mais real.
Pegou o primeiro ônibus rumo ao aeroporto.
Matheus e Isabelle
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