quarta-feira, 11 de maio de 2011

ect

Desculpe a demora em escrever. Mas te conhecendo a fundo como suspeito conhecer, sabia que você me esperaria com aquele velho otimismo quase clichê:
- "se já esperei por ele tanto, tanto, tanto, quer dizer que não vou ter que esperar mais muita coisa. quanto mais eu espero, menos eu vou ter que esperar. é."

Desculpe também essa língua solta, meio sincera demais. As palavras devem chegar aí suadas de tanto correr, que elas estão anos atrasadas.

Mas olha, achava que te esquecia com o tempo. Que nosso amor seria como um sol se pondo, bonito de doer, porém efêmero e abrindo as portas para a escuridão. Por isso quis congelar o pôr do sol e guardá-lo no bolso assim como estava: lindo, inofensivo. Talvez agora lendo você ria, divertida, lembrando do meu medo do escuro quando eu pedia para deixar uma brecha da porta aberta vazando luz pra dentro do quarto enquanto a gente dormia. Talvez não. O que importa é que, depois de tanto sol se pondo, estou pronto para tirar esse amor do bolso e encarar a noite contigo. Daí amanheceres e tudo cíclico, que quando chover também vou estar do teu lado, ardido dos sóis e das bebidas fortes da sua terra.

A sua falta me deixou um pouco tonto... ou talvez tenha sido o rum. Penso que posso estar escrevendo tudo isso em vão. Quiçá minha letra não esteja mais no seu alfabeto e você já não entenda quando balbucio saudades sem condições. Meu sentimento pode estar banido do seu vocabulário, assim como eu, que porventura você não tenha conseguido parar de esquecer desde que fui embora. Esse coração míope de quem não enxerga futuro em nada provavelmente não me tenha perdoado.

Seja como for, como anda você? A imaginação prega peças na gente. Às vezes penso cada coisa...
Seja como for, eu volto logo, me espera. Chego pouquinho depois desta!

Foi numa sala de ECT do Rio de Janeiro que jazia mais uma carta que, em tempos de e-mail e sms, voltou e rebateu nas mãos sujas de carimbo de um funcionário curioso fazendo hora extra. Amassada, atrasada, descuidada, suada, duvidosa com palavras que não paravam de correr.

2 comentários:

  1. Acho que a miopia é o pior dos males que um coração pode sofrer. Gostei muito da carta e acho uma pena que ela não tenha chegado ao destinatário. Queria saber como continuaria a história. Mas de repente essa era uma daquelas que não continuam, como tantas outras que existem por aí. Vai saber!
    Também adorei a analogia do pôr-do-sol. E é mesmo lindo de doer.

    ResponderExcluir
  2. Mas isso aqui, meu senhor, é uma carta de amor.

    ResponderExcluir