domingo, 12 de setembro de 2010

Parti ao teu encontro

Cinco anos, quem diria? Cinco anos que o seu olhar cruzou com o meu num lugar qualquer. O contato visual durou cerca de cinco minutos. É um minuto para cada ano, cara. Loucura. Tempo demais para se esperar por alguém. Eu fico me dizendo: "É loucura, é loucura." E acaba que me conformo no sonho que finda cada dia "Um dia, um dia". E vou levando essa esperança que se renova e se alimenta de luz fria. Periodicamente nos afastamos, é claro. Mas suas mensagens voltam a chegar. Volto a corresponder, voltamos a não oferecer resistência e meu castelo volta a afundar na areia doce das promessas de conto de fadas.
Por tudo isso tomei a atitude. Deixei os projetos de lado e parti ao teu encontro. Parti arriscando partir o peito já rasgado de tanto desencontro. Você duvidou, hesitou até o dia do meu embarque. Todos os planos estremeceram, ficou insegura e talvez mais que eu. Ensaiava uma desculpa. Verdade, não nos falávamos fazia tempo. Aquele intervalos periódicos pro coração acalmar. Mas não precisava tanto assombro. Arrumei a mala apenas com roupas, um bloco de papel e uma caneta.
Fiquei no mesmo hotel que antes, que visivelmente não fora reformado dentro dos últimos cinco anos, e fui encontrá-la. De primeira mão, não sei o que passou. Acho que, quando parti, deixei no Rio a parte falante e veio só o garoto tímido, ainda que caloroso, gesticulante. A parte interessante mesmo, acho que não trouxe. A não ser que você julgasse interessante tanto rubor... implacável, covarde rubor me colorindo a cara. Você estava tímida, também sem jeito e com uma expressão indecifrável. À nossa maneira, houve diálogo. E foi bem como no meu pesadelo. Como poderia você ter começado um noivado? Até entendo de não querer mais balanço, mas tínhamos tudo tão certo, tão ensaiado, tão aplaudido nos devaneios... pode ver, minhas lágrimas são cúmplice. Oh não! Elas também esqueci no Rio de Janeiro.
Partido, agora volto. Cinco anos e eu escolho o pior dia. Nem a deixei avisar, mas poderia me ter impedido, você sempre dava um jeito. Você sempre me surpreende.
Sei que pedirá perdão pelas coisas que acabou fazendo hoje e que eu, sôfrego, continuarei gostando de você. Da próxima vez te trago um cigarro, que num dos tragos você cospe esse babaca. E também um pouco de lágrima para degelar isso que se fez entre nós. A você, só tenho a oferecer o meu pior: esse músculo todo lascado e que não quebra. Vaso ruim não quebra mesmo, mas também não sustém flor. Mas por esses vasos de sangue, fica exposto à flor da pele o martírio do músculo todo lascado se contorcendo no gelo.
O frio pode até conservá-lo das medidas do tempo, mas o mantém incurável refém daquilo que não se mede.

Matheus Marins - 27/08/10

2 comentários:

  1. Dói demais esperar por alguém.
    E como disse Clarice Lispector, em Uma Aprendizagem: "Esperarei nem que sejam anos, para que você também tenha corpo-alma para amar."
    Mas quanto tempo conseguimos esperar?
    Eu me pergunto isso todos os dias. Para eu, não são 5 anos, 1 ano, por enquanto.

    O texto é triste, bonitamente triste.
    Eu gostei, expressa sentimentos e desejos muito fortes, gosto disso.

    Cuide-se, abraço forte.
    Aponta pra fé e rema.

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  2. gostei, nada previsível. tristeza tem a vantagem de se expressar quase sem esforço, né? flui.

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