domingo, 20 de novembro de 2011

Nada por mim


Acostumei-me ao teu corpo como por sobrevivência se adapta um bicho a um novo habitat e, por assim dizer, acabei tomando gosto pelo seu território. Primeiro procurei por instinto, a sabor ou dissabor, a qualquer custo suprir-te do que querias de mim. Só por fazê-la satisfeita assim, a troco de teu sorriso – em segredo: só o que eu queria.
Depois, pelos termos do nosso amor didático, comecei a suspeitar as maneiras de te saborear. Como se eu bicho aprendesse a comê-la feito fruta inédita. Estreando pela insípida casca e insistentemente passando a um curioso bagaço onde você me guiava para o seu íntimo. Daí finalmente, conduzido pelos seus calores, desvendava cada vez melhor o jeito certo de te provar. Na minha irracional sede, te devorava a polpa e engolia sorridente o caroço até que você pedisse trégua. Foram assim noites, intervalos, horários de almoço a te tomar enquanto eu passava de bicho a humano e então a dependente.
Apaixonei-me não só pelo sorriso, mas pelos caminhos para fazê-la sorrir. Mantendo o segredo, fiz da sua delícia o meu motivo – afinal, o que é melhor que ver a pessoa amada feliz?.
Não custou até que eu compreendesse o meu papel ao pé da cama. Até você me sorrir com o sorriso que eu te ensinara a sorrir e me propor que a deixasse em paz.
- Não faça assim.

Matheus

6 comentários:

  1. Não entendeu que tu fazia (quase) só pra agradar?

    Bela construção, gostei das metáforas.

    =*

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  2. Olha quem está lá hoje:

    http://michelesantti.blogspot.com/2011/11/devaneio-esferografico-matheus-marins.html

    Bj

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  3. de certo modo somos sempre cativos, e presas do amor.

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  4. as palavras fizeram uma valsa de tão bem encaixadas umas nas outras. E essa música, bem ela é o ponto fraco. ela, o amor, o sorriso fácil e todas essas outras coisas que a gente insiste em querer.

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  5. Eu vim mesmo te visitar aqui e deixar meu comentário desse texto que tanto gostei.
    Aí li o comentário aqui de cima.
    E não querendo ser clichê, faço minhas as palavras dela.

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  6. não vou achando que é meu.....

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