domingo, 18 de julho de 2010

Olha Maria / Pedaço de Mim

Olha Maria
Eu bem te queria
Fazer uma presa
Da minha poesia
Mas hoje, Maria
Pra minha surpresa
Pra minha tristeza
Precisas partir

Parte, Maria
Que estás tão bonita
Que estás tão aflita
Pra me abandonar
Sinto, Maria
Que estás de visita
Teu corpo se agita
Querendo dançar

Parte, Maria
Que estás toda nua
Que a lua te chama
Que estás tão mulher
Arde, Maria
Na chama da lua
Maria cigana
Maria maré

Parte cantando
Maria fugindo
Contra a ventania
Brincando, dormindo
Num colo de serra
Num campo vazio
Num leito de rio
Nos braços do mar

Vai, alegria
Que a vida, Maria
Não passa de um dia
Não vou te prender
Corre, Maria
Que a vida não espera
É uma primavera
Não podes perder

Anda, Maria
Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer

----

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus


Chico Buarque

Muitas vezes estamos apenas contando a mesma história, só que dividida em várias outras.

Dedicatória.

Para inovar é preciso sonhar, acreditar e agir.

Que passado mais um outono de vida,
você possa sentir frio no inverno,
arder na primavera
mas se queimar no verão.

Voltar ao outono
como o mundo que volteias,
sem esquecer de antes pular outro carnaval.

Que passe ainda por tantos ciclos
sem que se olvide da graça do novo.
Que você seja inovadora em sua vida.

(...)

Matheus Marins Alvares

domingo, 11 de julho de 2010

Reencontrar-te depois de tanto tempo me deixa confuso. Saber de tudo o que fomos e pôr em contraponto com o pouco que somos é dar uma catucada atroz na ferida mal cicatrizada.

E juro que, quando a re-vi, de primeira não soube o que fazer, por mais calculado que meu repertório pudesse estar. Você ria um riso tão fácil, tão saudoso, tão cúmplice de nossos sonhos que, quando nos abraçamos, vi aquela ferida se abrir por completo e se alastrar pelo meu corpo todo, deixando evidentes segredos que até eu desconhecia. Toda a minha vontade escondida ficava destrinchada, nua, entregue de bandeja assim no meio do salão: tudo o que vez ou outra me puxava sempre veloz, porém atrasado, de volta para você: toda a paixão ficava exposta e indefesa, do jeito que sempre sonhei.

Quando você disse que trazia cartas minhas consigo, cartas da época de nossos caprichos, já nem era mais tanta curiosidade quanto assombro, mas da mesma forma quis lê-las.
Cada palavra era uma porrada na minha compostura, uma labareda na minha frieza, uma corda bamba no abismo para os meus cuidados. Eu, vítima de minhas próprias palavras, sei que caí, mas não por completo, porque não foi toda a água contida que caiu de meus olhos trépidos naquele instante.

Era inseguro, desejava e, quando não mais aguentei, te roubei um beijo, ou algo que um dia quis ser beijo, calando uma conversa sobre relacionamentos e me vendo ainda mais perdido de tão solto.

Sei que a noite seguiu seu rumo fiel à normalidade porque tomei o ônibus e era eu trazendo seu perfume comigo outra vez, apesar de intervalos a cada vez mais espaçosos a me dividirem desse teu cheiro. Coisa doce que trazia nas mãos que tanto te seguravam entre nossos devaneios, no peito, trazia nos braços que se alegravam de te dar tantos abraços. Coisa doce... doce, doce essa melancoliazinha. Ai ai

Eu estava em paz... quando você chegou.

Matheus Marins Alvares – 10e11/07/10

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Felicidade

Ele tinha o cabelo molhado, talvez pela chuva que caíra perto dali cinco minutos antes. Contraditoriamente, andava apressado e sem ir a lugar nenhum. Ia, mas voltava para o mesmo ponto logo em seguida. E na cidade grande seu rosto já era batido, revestido de cotidiano de forma que ninguém atentava às suas andanças vãs.

Ficou claro que esperava por alguém quando um carro encostou e ele foi ao seu encontro. Era ainda possível percebê-lo recebendo uma maleta de couro, que carregou com todo o cuidado quando deu para sair em disparada para um beco de difícil acesso não muito longe dali. Foi onde encontrou outros homens de paletó e gravata, agachados num chão úmido, fazendo círculo e jogando bolinhas de vidro que batiam umas nas outras. “tudo pronto?” pergunta o primeiro. No que o homem do cabelo molhado faz que sim, um deles bate palmas em direção à janela de um prédio vizinho. Quem aparece abrindo a porta dos fundos é uma criança lá com seus oito anos de idade. Todos sobem em silêncio e no terraço já não se perde tempo: a mala é aberta revelando seu conteúdo: uma formosa pipa verde com uma rabiola respeitosa, toda detalhada. O menino explica todo o processo de preparação e a curiosidade desses homens tem cheiro de porões velhos nunca arejados. Depois, de um em um, todos tentam colocar a pipa à liberdade do ar, recebendo dicas do garoto paciente que ainda ouve pérolas como “no meu tempo era mais fácil”, “o vento está ruim” e “amanhã eu trabalho cedo”.

A pipa já voa orgulhosa quando o horário da aula vai acabando. “Isso é para se usar apenas antes do pôr do sol. Pela noite não dá para enxergar direito, e o céu escuro é bom mesmo para ver os desenhos que as estrelas fazem ou procurar onde a lua se esconde em dias de noite fechada. Experimentem apagar a luz.” Sugeriu o pequeno sabido. Ao fim, todos saem leves de volta para suas casas e com um riso fácil, reparam nos pássaros e esquecem a buzina do carro.

Passaram-se duas semanas desde que uma reunião de trabalho foi feita na casa do Carlinhos, logo quando todo o escritório abriu os olhos após o Rafael concluir, entre uma conta e outra, que queria mesmo era ter os fins de semana como os do filho do Carlinhos e que não havia estudado para ter uma vida assim tão corrida. Aí então se percebeu desnecessário o esforço de todos aqueles homens em fazer o mundo girar mais veloz, e deu de aparecer por ali a graça de viver com o tempo. Mas aquelas pessoas não sabiam bem como funcionava essa coisa de se distrair. Foi quando o Carlinhos prestativamente ofereceu seu filho para lecionar aos adultos como esquecer o trabalho oito horas por dia. Aí eram crianças de todas as idades, vestidas de todos os jeitos, a soltar seus devaneios, desatentas ao relógio que agora corria já de outro jeito.

Conseguir ver um mundo tão vil com olhos de criança é um desafio, uma dádiva para poucos.

Matheus – 04 e 05/07/2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Fazes-me falta

Hoje estive com minha velha amiga Rebeca. Há muito não a via e sem querer esbarramos em nosso passado. Sua lembrança, mais que em qualquer outro dia, me veio atroz, terrível por saudade sem cura pelo remédio que está em falta faz tanto tempo. Há seis meses que estás distante... Cheguei em casa ainda composta, mas fui caindo aos pedaços conforme atravessava a sala de estar e via o porta-retratos com duas pessoas sorrindo, fotografia que não sustenta o pesado ambiente da falta. Acelerei pelo corredor sem olhar o seu quadro. Inevitável, o avistei por nuances do costume da mesma forma e a saudade aumentava. Na cozinha, no quarto, banheiros, sala de jantar, havia vestígios de nossas horas vagas em cada piso daquele chão. E é difícil levar assim. Deito-me à cama com um, mas sigo pensando no outro. As tardes não têm mais graça. Continuo trabalhando à noite para me ocupar. Durmo até a hora do almoço e depois não sei o que fazer. Por isso escrevo-lhe tanto. Já experimentei pintar, jogar videogame, fazer caminhada, futebol, ginástica, arrumar um substituto,... nada funcionou. Meu coração é um traidor sacana de escolher logo você e querer andar tão errado, selecionando os que partem, os que enganam, e enganando os que ficam.
Me peguei imaginando como seria se eu fosse para longe de onde fiquei. Acelerando sobre cada metro deste luar refletido nas águas, chegando à ponta do horizonte (onde uma linha faz o encontro entre dois pontos extremos) e verticalizando após ultrapassá-lo. Seria como quebrar esta formalidade e deixar escapar tudo abaixo da linha do horizonte para onde quisesse estar. Ando com raiva de tudo o que me prende, do formal. Não, não estou com abstinência. Tomo meus remédios também. Acho que é só saudade. Paro de braços abertos na beira da cama. Braços que te procuram, por almejarem de volta tudo melhor que antes: nós dois soltos de tudo contemplando todo o resto que se prende.
Assim meu peito seria alegre contigo, numa enchente carnavalizada em cores. Numa hemorradia de emoções lancinantes. Como um teatro sem cortinas, assim seria a minha felicidade. Sem final para o ato, portanto sem aplauso. Finalmente com nada a esconder atrás da cochia, garanto.

Matheus Marins Alvares - junho/2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Assim meu peito seria alegre contigo.
Numa enchente carnavalizada em cores
numa hemorragia de emoções lancinantes
como um teatro sem cortinas, assim seria minha felicidade
Sem final para o ato, portanto sem aplauso,
finalmente com nada a esconder atrás da cochia.
Garanto.

Matheus Marins Alvares - Junho de 2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O velho e a Flor; Veja Você; Mais um Adeus


Ouço e nunca canso.

"O amor é uma agonia
Vem de noite, vai de dia
É uma alegria
E de repente
Uma vontade de chorar

Olha, benzinho, cuidado
Com o seu resfriado
Não pegue sereno
Não tome gelado
O gim é um veneno
Cuidado, benzinho
Não beba demais
Se guarde para mim
A ausência é um sofrimento
E se tiver um momento
Me escreva um carinho
E mande o dinheiro
Pro apartamento
Porque o vencimento
Não é como eu:
Não pode esperar"

Vinicius de Moraes e Toquinho