quarta-feira, 27 de maio de 2015

O homem das horas

Sem esforço nem desejo, subia-lhe aos olhos um calor veranil, fatura de memórias com energia demais. Eram de chuva, de preguiça, de estrada e de tédio. Tédio bom, onde já se viu? Ele viu. Foi feliz quem já viu. O calor de lembrá-lo era tal que seus olhos suavam. Suavam um suor sem querer suar de novo.
E cada gota desse suor caía como caísse ele e suas horas inteiras. O relógio parava pra ver e cada segundo que deixava de passar era arrecadado pela garganta embolada com tanto tempo seco pra contar.
Como se os olhos estivessem magoados por não vê-la num domingo vazio.


Matheus Marins,
março 2015